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Bru Fioreti

Mais tempo, grana e prazer: empreender é mesmo uma boa ideia para mulher?

Bru Fioreti

07/11/2018 05h00

Quantos vídeos, livros e eventos sobre empreendedorismo feminino você tem visto ultimamente? Não é impressão: eles se multiplicaram em 2018 e tendem a ser ainda mais numerosos no ano que vem.

Ao menos dois fatores explicam esse crescimento: 1) o aumento da informalidade, que chegou a 4 entre cada 10 trabalhadores no último trimestre, como divulgado no último dia 3 pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE; 2) o empoderamento feminino, tema que vem ganhando notoriedade nos últimos anos e que estimula a troca de informação entre mulheres nas esferas de comportamento e carreira.

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O que muitas mulheres têm me perguntado é se elas vão ficar para trás se permanecerem em seus empregos formais, se o empreendedorismo feminino é uma onda passageira e, por fim, como fazer para embarcar nela e encontrar mais propósito no trabalho solo.

Vamos por partes.

Praticar o autodesenvolvimento, cuidar das finanças mais de perto e cultivar a inovação sem medo de fracassar: essenciais do empreendedor (Foto: Pexels)

Preciso empreender necessariamente?

Ninguém precisa abandonar a carteira assinada se não quiser, a carreira corporativa tem suas vantagens e pode ser promissora, sim. O que mudou é o conceito de plano de carreira. Não dá mais para delegar ao RH de uma empresa o planejamento de desenvolvimento profissional, contando apenas com uma escalada de cargos internos.

Além do que, com o desemprego em alta, empreender pode ser a única opção.

Já a sensação de que esse é o caminho mais glamuroso vem dos relatos de pessoas mais felizes na jornada empreendedora. Verdade apenas em parte.

Quando uma pessoa abre a própria empresa e realiza um sonho, ela tende logo de cara a ficar satisfeita, reclamar menos, sentir-se bem tendo liberdade nas decisões e nos horários… E se empenha mais, afinal, se não batalhar, a coisa não vai para frente! Uma crença comum é de que a vida será mais livre, a jornada mais enxuta.

Aí começam as meias verdades. O horário tende a ser mais flexível, ainda mais em empresas de uma pessoa só. Mas é comum empreendedoras se queixarem de não deixar nunca de trabalhar, de ser impossível se desconectar.

Flexibilidade não significa mais tempo livre, necessariamente. Significa poder escolher quando desfrutar o tempo livre, mas ele pode ficar mais escasso.

Outro lado não tão romântico do empreendedorismo — e isso transcende o gênero do empreendedor — é que uma parte enorme das empresas fecha antes de completar um ano, principalmente por falta de capacidade de lidar com finanças, dificuldade de entender o mercado, problemas de planejamento e liderança. Empreender é difícil, requer preparo, resiliência e uma série de habilidades para as quais a faculdade não prepara.

Apesar dos pesares, dizer que empreendedorismo feminino é uma onda seria negar o que acontece mundo afora. Trabalhar informalmente é tendência, mas é uma tendência duradoura — e claro que isso vai atrair mais e mais mulheres, principalmente diante do fato de muitas ainda não ganharem tão bem quanto os homens nas empresas convencionais, como mostram dados recentes.

Mas como empreender? O que fazer na prática?

A essa altura, você entendeu que a lua de mel com o trabalho solo pode durar pouco. Porém vê aí a única ou a melhor saída para ter um trabalho satisfatório e combater a disparidade salarial? Então comece por pensar no conceito de empreendedorismo, que tem a ver com inovação.

Empreender é sobre farejar oportunidades, resolver problemas, sair da zona de conforto e realizar. E isso não se restringe a empresários. Você pode ser uma empreendedora em qualquer carreira, basta se movimentar para tanto. 

Se puder resumir em uma dica, seria: comece por empreender na sua carreira atual e na sua vida, sendo a empresa de si mesma.

Trabalhar o autodesenvolvimento e a autoconfiança para se aprofundar nos temas que lhe interessam e acreditar mais na intuição — empreendedores precisam desenvolver o combo informação + "feeling" para lidar com constante necessidade de tomar decisões difíceis.

Mais confiante, você ganha coragem para realizar e lidar com as incertezas e a solidão que acompanham empresários, outro ponto essencial do empreendedorismo. Quanto mais sentir que o fato de ser mulher pode barrar oportunidades, mais confiança vai precisar para ultrapassar tais barreiras (pergunte a qualquer mulher empreendedora).

Fazer da sua carreira e do seu desenvolvimento um trabalho em si é, portanto, o passo inicial do empreendedorismo feminino.

No processo de autoconhecimento, entra a ideia do propósito, encontrar um sentido no que faz. A busca por propósito é importante porque, mais do que no formato clássico, no trabalho solo é preciso ter automotivação. Sem chefe cobrando, você precisa ter ânimo para criar uma rotina organizada, manter-se atualizada e seguir em frente nas situações adversas. Só um "por quê" forte ajuda a motivar nessas horas e a persistir.

Mais 4 dicas para empreender

Entendendo que o autoconhecimento é a ferramenta mais preciosa de uma empreendedora, porque impulsiona a ação, você pode começar a colocar a mão na massa. E o que vou sugerir aqui vem antes mesmo de fazer um business plan.

  1. Treine a disciplina trabalhando nos fins de semana. Qual o segredo da transição profissional? Se houver um é trabalhar em dobro até poder fazê-la com tranquilidade, a fim de ter um dinheirinho em caixa, ganhar experiência, fazer testes e ganhar confiança. A grande dificuldade é levar o trabalho adicional a sério. O que recomendo: ter um horário fixo para a nova atividade e aproveitar os fins de semana para se acostumar a trabalhar fora do horário comercial, o que é comum entre empreendedoras.
  2. Estabeleça um pró-labore e perca o medo das finanças. Qual o mínimo que precisa ganhar para se sustentar? Quanto entra e quanto sai da empresa? O que é pessoal e o que é dela? São perguntas banais para as quais muitas empreendedoras iniciantes fecham os olhos. Vale tirar a venda, acredite. Começar a encarar as finanças traz uma sensação de liberdade ímpar, além de ser essencial para a longevidade da empresa. Como expandir o negócio sem saber os limites para investir e ter a perfeita noção da saúde financeira dele?
  3. Crie uma rede de apoio, de preferência feminina. A jornada empreendedora pode ser solitária, e é por isso que a troca de informações se torna tão importante, ainda mais entre mulheres, que podem encontrar desafios específicos. Não à toa pipocam eventos de empreendedorismo feminino, como disse no início desta coluna. Mesmo se não tiver uma mentora, você pode ter um grupo para falar de tendências, trocar impressões e se apoiar mutuamente. Parcerias são essenciais para quem empreende, e muita gente descobre isso tarde, por medo de compartilhar ideias ou demonstrar fraquezas.
  4. Teste ideias com baixo custo e risco. A inovação é inerente ao empreendedorismo. Se você for uma empreendedora de primeira viagem e não tiver dinheiro para investir, comece fazendo pequenos testes. Pergunte ao seu potencial cliente o que acha de uma ideia, faça experimentos de baixo risco para colocar as ideias em prática. Muitas tentativas vão ser fracassadas, o que é ótimo! Pense em Thomas Edison, considerado o maior inventor de todos os tempos, mas também o cientista que mais falhou. O fracasso faz parte do sucesso.
  5. Desenvolva seu "departamento de comunicação". Conhecimento técnico não segura uma empresa sozinho e, infelizmente, nem produto ou serviço bons são garantia de sucesso. É preciso comunicar o que faz eficientemente, ainda mais em tempos de concorrência acirrada e marketing digital desenvolvido. As pessoas precisam saber o que você entrega e, para isso a gestão da marca precisa ser consistente. Pense desde o início na sua proposta de valor, nos seus diferenciais e em como estabelecer uma conexão genuína com seu futuro cliente.

 

Sobre a autora

Bruna Fioreti é coach de vida e carreira, jornalista e consultora de branding pessoal e conteúdo. Ministra cursos e palestras sobre carreira, estilo, produtividade e temas femininos pelo Brasil - expertise desenvolvida em cinco anos como redatora-chefe da revista Glamour. Com MBA em Coaching em curso e seu projeto Manual de Você, realiza dezenas de atendimentos individuais e dissemina o conceito de #autocoaching nas redes sociais.

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre carreira, com foco nas mulheres que buscam satisfação, foco, produtividade e aprimoramento da imagem profissional. Um espaço para falar das tendências da área, que vai te ajudar a atingir a melhor performance da empresa chamada VOCÊ.

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