Trabalhe com afinco em um ambiente por algumas horas e depois vá zanzar pela casa. Sua criatividade agradece (Foto: Pexels)
Fazer home office tem suas peculiaridades. Alguns amam, outros estranham, sentem falta do contato com mais gente. Mas, convenhamos, não estamos em tempos de home office convencional. Nada é convencional no que estamos vivendo.
Então, por que tentar apenas as dicas mais batidas?
Se você precisa produzir nesse período ou, assim como eu, encara um nível saudável de produtividade como algo positivo para a sanidade mental e a autoconfiança, talvez seja hora de tentar um olhar diferente para o trabalho remoto.
No texto de hoje, separei três ideias efetivas e menos convencionais que podem te ajudar a manter a produtividade (dentro daquele conceito: fazer mais do que é mais importante, e não se atolar!). Eu mesma levo as três muito a sério, além de muitas dicas para home office que indiquei no início da quarentena.
Vamos ao trio de técnicas.
Você já viu dicas do tipo “tenha um cantinho de trabalho” definido em casa, “vista-se para trabalhar” mesmo que só vá caminhar até a sala. E, ok, são realmente estratégias válidas. Para saber se funcionam para você, vale, inclusive, testá-las por uma semana pelo menos.
Mas existe uma estratégia adicional e bem menos falada.
Trata-se de trabalhar de forma concentrada por umas quatro horas naquele ambiente que escolheu e depois MUDAR de ambiente, em casa mesmo, para cada nova tarefa.
Aliás, você pode mudar de cantinho a cada atividade diferente iniciada.
Do cama para o sofá, deste para a mesa, da mesa para trabalhar de pé um pouco num lugar da cozinha. Soa estranho, eu sei. Mas é efetivo, porque o ambiente nos influencia mais do que gostamos de admitir e, como estamos mudando pouquíssimo de cenário, isso pode acabar limitando a criatividade.
Pequenas alterações já ajudam a “abrir a mente”.
Alimente e ative seu cérebro dando a ele doses, ainda que homeopáticas, de novidade.
Foco intenso em algum trabalho e depois vagar pela casa não é procrastinar. Ou é. Mas quem falou que procrastinar é necessariamente ruim?
Veja a seguir.
(Foto: Pexels)
Vamos levar mais método para a procrastinação nossa de cada dia, que tal?
Simples. Comece a se debruçar muito sobre uma ideia, pesquise o que precisa, faça esboço, fale com pessoas confiáveis sobre ela… Intensifique o foco, tente pedir para não ser interrompida. Porém, antes de cair naquele ciclo de exaustão, de continuar ali trabalhando, simplesmente deixe cair o lápis. Ou a caneta. Ou o computador — não literalmente, por favor.
Comece uma outra atividade totalmente diversa da anterior. Pode ser cozinhar, lavar louça, desenhar, cantar, algo que te dê a sensação de esvaziar a cabeça ou que simplesmente “vire a chavinha”.
Comece a nova atividade (ou “não atividade”) sem compromisso com ter ideias, pare o looping de pensamento anterior e deixe a mente trabalhar em segundo plano. Tente dormir cedo, cuidar de si.
A ideia que procura, ou pelo menos a semente para ela, muitas vezes vai pipocar na cabeça nessa fase 2, a fase da procrastinação.
Um estudo mostrou que apenas 16% das pessoas tinham ideias criativas enquanto estavam no ambiente de trabalho. Era longe do monitor, indo pra casa ou fazendo algo nada a ver que a sacada que procurava aparecia.
Isso também acontece no sono. Se curtir a ideia, tenha um bloco de anotações ao lado da cama para registrar as ideias com as quais acordar de manhã.
Dia desses aconteceu comigo.
Estava trabalhado há semanas numa ideia e não me vinha o nome ideal que eu precisava ter para colaborar. Acordei com esse nome “soprado” no meu ouvido, depois de um dia especialmente estressante, depois de quase desistir da ideia…
Cada um vai explicar isso de alguma maneira. Mas, no mínimo, podemos concordar que, ao me debruçar com tanto afinco no tema complexo, dei elementos para a minha mente trabalhar. Um dia, quando ela quis e eu permiti ao aquietar minha agitação, me presenteou com a resposta.
3) Faça uma limpeza radical
Consumo excessivo nunca esteve tão fora de moda e muitos apontam que é só o começo desse olhar mais sustentável — ainda bem. Aqui, quero apontar para os malefícios do excesso de coisas ao redor não só para o ambiente, mas para a nossa clareza mental.
Parece intangível. Mas basta tentar para sentir a diferença.
Vale para a limpeza do guarda-roupa, da cozinha e vale também para os espaços que escolher para trabalhar. Mesmo se for pequeno, se possível, que seja limpo e pouco povoado de objetos.
“Seu espaço físico reflete seu estado mental. Se seu ambiente estiver desorganizado, sua mente também estará. Tudo é energia. Seu ambiente exerce influência sobre você, quer você perceba ou não”, diz o autor Benjamin Hardy em seu livro “Força de Vontade não Funciona”.
O autor ainda acrescenta algo importante: tire a maioria dos seus gatilhos de distrações e vícios de perto. Televisão, celular, snacks sem nutrientes e, caso possa, tente, se tiver como, se afastar por algumas horas de pessoas que costumam te interromper no meio do caminho.
]]>Aceitar a mudança; olhar para dentro, analisar os cases do mercado e testar a ideia nova: assim nasce seu plano B (foto: Pexels)
Falar que a gente precisa se reinventar profissionalmente agora já virou até clichê. Poucas áreas e profissões dispensam algum tipo de ajuste com as mudanças decorrentes da pandemia.
Mas definir quais ajustes são outros quinhentos. Especialmente para as profissionais liberais, o mais desafiador é achar um caminho alternativo ao que tinha começado a trilhar, muitas vezes a duras penas.
Para contribuir com esse processo de se reencontrar, nem que seja temporariamente, listo aqui quatro etapas.
Pode parecer óbvio, mas esse primeiro passo é o que faz a gente sair da zona de (des)conforto.
Muita gente tende a se apegar a um passado distante ou recente — este, que funcionava maravilhosamente bem até anteontem, mas não resolve mais. E cria-se um saudosismo inócuo.
Claro que é difícil lidar com mudanças, que leva tempo — e o timing para se adaptar a mudanças é também individual e depende de muitos fatores.
Mas será que já não é hora de começar a encarar a possibilidade de mudança? É, genuinamente, uma pergunta. Talvez não seja o caso para você. Mas avaliar é sempre válido.
Considere ainda possíveis mudanças na carreira como um passo lateral, não para trás. Algumas mudanças são temporárias; já outras podem levar a novos e bem-vindos caminhos na carreira.
Para saber, só começando.
Ainda nessa toada de “caindo na real”, considere, enfim, os formatos digitais.
Para algumas profissionais é mais difícil que para outras, eu sei — e até por isso as mudanças de área precisam estar no radar de quem cogita se reinventar profissionalmente em curto prazo.
A revolução digital já estava em curso; o que aconteceu é que ela foi exacerbada. Todo mundo está mais conectado, quem não fazia reuniões remotas agora faz, quem não usava a divulgação do trabalho em rede social já considera…
Por isso, teste formatos digitais, mesmo que lhe pareça estranho de cara. A adaptabilidade vem da prática, da fluência em usar determinado dispositivo ou sistema. No mínimo, você treina a capacidade de se adaptar ao novo tentando se desafiar no digital.
E se adaptar ao novo, o mais rapidamente possível, é das soft skills mais valorizadas no presente e será no futuro.
Tem uma constatação muito simples que resolve grandes dilemas profissionais. Aqui vai: você pode ser remunerada por aquilo que faz bem naturalmente, com o pé nas costas.
Ou seja, seus talentos naturais, habilidades inatas, coisas que costumava fazer bem quando mais jovem, hobbies nos quais se destaca… Em situações atípicas tudo isso pode virar uma carreira paralela, um plano B rentável e prazeroso.
Gaste um tempo anotando tudo o que sabe fazer, as coisas que sempre rendem elogios, as ideias que deixou passar mas que se encaixariam no momento. Traga essas capacidades engavetadas à tona, mesmo que não tenham nada a ver com a área de atuação principal.
A necessidade pode acelerar mudanças como essa. Mas não é porque esses planos B afloraram em situação adversa que são menores.
Projetos mais conectados à comunidade, cheios de propósito, repletos de simplicidade criativa podem afloram dessa investigação, digamos, singela.
Olhar para dentro é superimportante, claro.
Mas a pandemia está aí para escancarar que não adianta gostar de alguma coisa que o cenário lá fora não estiver pronto para absorver.
Por isso, agregue ao seu “estudo interno” uma atenta observação do que está sendo feito de bacana aqui e lá fora. Anote ideias que vierem à mente enquanto lê sobre os negócios e as carreiras reinventadas.
Buscar inspiração é diferente de copiar. Olhe várias, veja o que se adequa a você, crie em cima disso algo com a sua cara. É um mix de olhar para dentro + para fora.
Escolha um assunto que ama para começar seu microlearning e planeje 5 minutos diários (FOTO: PEXELS)
Antes de falar de coragem, vamos falar sobre a força que existe na união.
Se você fez os passos anteriores, mas acha que estar em dupla, em trio, em grupo poderia dar força ao seu projeto, una-se!
Nem que seja algo temporário — aliás, aqui estamos falando de tentativas, de planos B temporários mesmo.
Outra maneira de arregaçar as mangas e fazer é encarar a ideia de teste, de experimento. Esse conceito serve para tanta coisa!
Se você assume que está fazendo “apenas um teste” sente-se bem menos pressionada a acertar logo de cara. Também não tem tanto a perder, afinal, sabe que se trata de uma tentativa.
Isso tem a ver com a ideia MPV (mínimo produto viável), que emprestei das start-ups para te inspirar a criar versões do seu plano B que possam ser testadas sem um custo muito grande, sem risco de repercussão negativa e sem demorar demais.
Quando você cria o seu MPV, arrisca-se menos, mas testa logo a ideia que teve e já pode, com o feedback dessa experiência, avaliar se está no caminho certo.
Uma vez que testou, fica mais fácil continuar, ajustando o que for necessário.
Atenda os primeiros clientes, lance a mentoria, faça o projeto digital, venda aquele produto que sabe fazer… Comece com a família e os amigos mesmo — remotamente, claro.
Com isso, terá um plano B em andamento rapidamente, sem se pressionar demais para ser perfeita. E se não for isso que quer da vida? Oras, se quiser, depois, volte ao trabalho, ao estilo, ao projeto anterior.
A vida não é linear, e ela é sua. A carreira também 😉
]]>Hiperconexão vira hiperconvivência com pessoas com as quais você nem percebe que deixou entrar na sua vida. E isso influencia seu humor, sua produtividade… (Foto: Pexels)
Começo a coluna com dois clichês, porém dois clichês muito bem-vindos para trabalhar a autopercepção nesses tempos atípicos.
O primeiro é a clássica frase “diga-me com quem tu andas, e eu te direi quem és”. A segunda é uma versão disso, dita pelo já falecido guru americano Jim Rohn: “você é a média das cinco pessoas com quem mais convive”.
Começo assim porque a convivência nunca esteve tão escassa e ao mesmo tempo tão intensa.
Em casa, se você mora com alguém, está convivendo e sendo influenciada com muito mais intensidade do que antes pelos seus, goste ou não.
Mesmo que não seja uma influência perceptível logo de cara, do tipo “estou ficando parecida com meu marido” ou “gente, estou falando igualzinho a minha irmã”, a relação pode se manifestar em diferentes emoções, que, por sua vez, levam a novos e nem sempre desejados comportamentos no trabalho.
A irritação da hora do café da manhã que te faz ficar impaciente na call do trabalho; a mágoa que te faz desanimar de começar um projeto paralelo agora; e assim por diante.
A influência do âmbito familiar no trabalho, e vice-versa, é apenas uma das nuances relacionadas ao convívio.
Várias pesquisas têm mostrado a hiperconexão em tempos de quarentena; e a superconvivência, agora virtual, vem na esteira desses números.
Um exemplo: levantamento da Comscore feito em março mostrou aumento no uso de redes sociais de mais de 26%, com 19% a mais de tempo médio de permanência nas redes. No quesito site de notícias, houve quase 30% de aumento na procura e mais de 40% no total de visitas — graças principalmente à busca de informações sobre a Covid-19.
Direta ou indiretamente, esses números mostram mais que acesso: mostram conexão, “convivência”.
Você “convive” com as pessoas com as quais faz ligações de trabalho, “convive” com quem segue na rede social e até com as personagens frequentes do noticiário.
Se está convivendo demais com esses agentes, além do seu núcleo familiar e dos amigos com quem troca mensagens, está lidando com novas pessoas e fatos e permitindo que entrem na sua casa, na mente, na sua vida — e, pelo que os números mostram, numa proporção bem maior.
Não vim dizer que é bom ou ruim. Só que tem um impacto.
O post que você leu afeta seu humor. A notícia que acompanha sem parar atrapalha sua concentração. As chamadas que aceita fazer mesmo sem querer aumentam seu nível de estresse e te deixam exausta para aquelas que de fato queria.
Nossa atenção e nosso tempo são recursos limitados e estão à mercê das influências que deixamos entrar na nossa vida.
Sem dosar a hiperconexão, ela pode se tornar hiperconvivência e consequentemente um mar de influências fora de controle. É difícil se blindar 100%, mas é possível trazer consciência, fazendo as perguntas certas.
Se somos a média das cinco pessoas com quem mais convivemos, e se hoje isso se estende ao que consumimos no âmbito virtual, quem estamos nos tornando?
E mais: isso que estamos nos tornando é o que queremos, nos faz bem? Está contribuindo para nossos sonhos? Nos deixando produzir à altura do que precisamos ou queremos?
Antes de avançar, quero te convidar a fazer uma autoanálise de convivência. Respondendo:
Com essa análise em mãos, espie a seguir a descrição de dois perfis que pode te ajudar na autoavaliação.
Perfil 1: Casada de papel passado com as lives e os posts do Instagram. Ficar hiperconectada a redes sociais, é sabido, não faz muito pela saúde mental das pessoas. Volto a indicar ter horário fixo para navegar na rede favorita e usar o dispositivo de dosar a quantidade de horas conectada, disponível em vários celulares hoje em dia.
É natural se conectar mais nesse período. É OK aproveitar o conteúdo que está sendo oferecido, querer se entreter e, por que não?, sucumbir ao escapismo.
Mas, sob a ótica de que a “convivência” virtual com pessoas e assuntos influencia para o bem e para o mal, será que não vale olhar com calma o conteúdo que consome? E se perguntar o que ele provoca em você? O que te acrescenta? Qual a sensação que causa? No que ele te ajuda a se tornar?
Sugestão: antes de tudo, tente se afastar do celular enquanto trabalha. Faça uma limpa nas redes, fazendo com que pelo menos 80% dos perfis sejam os que passaram pelo seu novo crivo, baseado na ideia da influência direta do conteúdo sobre sua vida. Silencie quem não te fizer bem nem te acrescentar, se não quiser deixar de seguir. Reduza o tempo nas redes sociais a no máximo 1h30, 2h por dia — só de ter uma meta de tempo, já se sentirá mais no controle.
Perfil 2: Em um relacionário (ins)estável com notícias políticas e de pandemia. Claro que a gente precisa estar bem informada sobre o cenário político, econômico e principalmente os updates da pandemia. Mas estar por dentro não é estar atenta a cada novo tuíte sobre o tema! Eu sei que a conjuntura nos provoca esse senso de urgência, mas se você se informar por veículos sérios, de notícia, e não por prints de WhatsApp, poderá esperar para se inteirar em apenas um momento do dia que as principais notícias estarão lá, compactadas e apuradas para você.
Sugestão: informe-se por meio de veículos sérios, escolha os que mais gosta e faça uma espécie de “ronda” em um horário fixo do dia; pode ser a pausa do almoço ou assim que acordar. Por mais que eu seja jornalista e ache importantíssimo estar informada, tenho que admitir que notícia em excesso faz mal. Psicólogos e estudos de várias linhas já apontaram nessa direção. Sob a lógica de “no que essa convivência me torna?”, excesso de notícia ruim pode te tornar uma pessoa desgostosa e reclamona.
Manter a esperança e a cabeça fria envolve diminuir a quantidade de noticiário a que se submete, não se apegar só às manchetes negativas, procurar análises variadas sobre os fatos, especialmente as que mostrem diferentes perspectivas e não te deixem presa ao ciclo de notícias factuais negativas.
Ninguém tem que se desconectar nem se culpar por estar conectado demais, mas podemos tentar dosar isso para melhorar a concentração, produzir melhor e ter mais serenidade nesse período. Filtremos bem as influências, inclusive as virtuais, que colocamos na nossas vidas.
Controlemos o que podemos, afinal.
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Revisitar as certezas e replanejar: tempos difíceis nos ajudam a mudar a forma como encaramos o trabalho e a vida. Já repensou por aí? Foto: Pexels
A incerteza, a quantidade de notícias ruins, o isolamento social, as perdas, o(s) medo(s)… Tudo isso tem feito com que muitas de nós não consigamos trabalhar direito, pensar direito e muito menos agir direito em direção a qualquer objetivo que passe pela cabeça.
Mas, embora eu defenda dosar a quantidade de horas no celular e diminuir a exposição a notícias, não acredito que o único jeito de tocar nossos barquinhos individuais é cair no egoísmo e ignorar o que está acontecendo para fora das janelas dos nossos apartamentos.
Será que não existe algo a aprender bem no aqui-agora? Abraçando inclusive esses altos e baixos característicos do período?
Tenho pensado nos vários desdobramentos disso. Sem querer romantizar a pandemia nem demonizar as mudanças por ela impostas, mas simplesmente acolhendo o que ela nos traz de diferente e o que nos mostra sobre o que sempre esteve debaixo do nosso nariz.
Há muitos, muitos aspectos interessantes nessa linha de raciocínio sobre o que aprender com a Covid-19. Aqui, falo de carreira, produtividade e aspectos do comportamento vinculados ao trabalho, trazendo dicas de aplicação para cada leitora. Nesse campo, ao menos três aprendizados me chamaram a atenção:
Não é tão abstrato quanto parece, viu? A seguir destrincho cada item e como podemos evoluir em cada um deles na prática.
Em que momento mesmo fomos convencidas de que precisamos ter 100% de certeza para agir? Se a gente pensar a fundo, nem é possível ter 100% de certeza, a menos que seja uma autoengano. Ué, não temos controle de absolutamente tudo, então não podemos ter essa certeza toda.
Podemos, claro, desenvolver convicções e trabalhar em cima delas. Podemos, ainda, ter um misto de sensação e dados que nos leve a tomar boas decisões. E é esse o ponto que quero trazer: a certeza absoluta, assim como tudo o que é absoluto, é uma ilusão.
Quer um momento melhor que esse para refletir sobre isso e, de uma vez por todas, aceitar que não controlamos tudo? E entender que, apesar dos pesares, controlamos uma parte das coisas (como reagimos aos fatos, por exemplo) e podemos agir com o que sabemos que controlamos?
Nos meus cursos, sempre estimulei as pessoas a agir com 80% de certeza — mas pode ser qualquer porcentagem acima de 51%. Isso: se você já está pendendo para um lado, pode dar um pequeno passo naquela direção, desde que tenha consciência das consequências.
Isso é para te ajudar a pensar de maneira menos rígida. Não se cobrar para ter todas as respostas. Permitir-se um pequeno nível de risco que seja. Não travar em tempos difíceis.
Ser prudente é uma coisa, ser dominada por medo é outra. Saiba diferenciar.
Ao menos, no momento, você pode se sentir acompanhada: todo mundo que está fazendo alguma coisa, profissional ou pessoalmente, está fazendo isso sem a ilusão dos 100% de certeza, porque pandemias escancaram que isso não existe.
Entre aguardar a certeza impossível e uma pequena ação com frio na barriga, com qual você fica?
Obs. Perceba que usei sempre o termo “pequena ação”, porque ninguém está dizendo que necessariamente você precisa ser ousada agora. Pequenas atitudes, pílulas de ação, podem ter um impacto positivo enorme sobre sua autoconfiança, com baixo risco. Uma nova rotina em casa, o início de um projeto de conteúdo nas redes sociais, fazer um curso que nunca faria, um projeto novo beneficente no trabalho, um teste de dar mentoria remota…
Você escolhe o que fazer com esses 80% de certeza que tem aí martelando na cabeça.
Vi essa expressão recentemente em um vídeo do Murilo Gun: “atualizar o software” para entrar de vez no que ele chama de “idade complexa”, a que vivemos hoje, uma possível denominação para o tempo que vem substituir a idade contemporânea.
O mundo complexo no qual vivemos não comporta mais pensamentos lineares, seja para lidar com a questão do lixo seja para as carreiras individuais. Tudo, diz ele, está “tecido junto”, conectado, e portanto mais difícil de assimilar com pensamento binário.
A constatação de que estamos nessa nova era o faz concluir que vamos precisar mudar. Sim ou sim. E também aceitar que não vamos compreender todos os seus aspectos; é complexo demais.
O que é possível fazer é abrir-se ao novo, abraçando a mentalidade (ou mindset) de crescimento, sobre o qual falamos na semana passada, e tentando ler os sinais de mudança — mais um conceito que já tratei na coluna quando falei de futurismo aplicado ao nosso dia a dia.
A proposta é desenvolver uma observação mais atenta e mais rápida. Observar as mudanças que estão acontecendo AGORA. Ler o que há por trás delas e como se conectam com a sua vida e a sua trajetória particular hoje e possivelmente amanhã.
Tente se perguntar, por escrito:
E aí fazer a tal atualização de software, uma espécie de instalação dos novos paradigmas. A conscientização do que o mundo complexo, ou uma parte dele, está revelando agora e como você se encaixa nisso.
Aceitar o quanto antes que vai precisar mudar diante do cenário e entender quais os caminhos pode tomar na prática a partir daí.
O cenário ultracomplexo do momento é perfeito para esse tipo de reflexão profunda e atualização do “eu-software”. Desapegar das verdades que fez questão de manter até hoje e aceitar a beleza de mudar de ideia — se sua reflexão a levar a isso.
Eis o mundo complexo: ideias fixas e lineares não o compreendem. Por que ações com essas características seriam as mais indicadas? Re-pense. Re-aja.
Involuntariamente, a pandemia já fez isso por você: te obrigou a mudar a maneira como vivia, rever os planos, talvez se adaptar a um novo modelo de trabalho — isso além dos tópicos acima, de encarar uma realidade totalmente nova, instável e com um grau de imprevisibilidade com a qual não contávamos agora.
Fato é: estamos tendo que lidar com um desconforto em todas as esferas das nossas vidas e isso nos ensina muito.
Do ponto de vista da carreira e da produtividade, a recomendação de sair da zona de conforto sempre esteve presente. Mas como isso fica na prática, ainda mais diante da nossa fragilidade emocional agora?
Bom, a primeira coisa é pensar nos passos acima, tomando consciência do seu nível de equilíbrio e saúde emocional e de quais as possíveis mudanças que o cenário te convida a fazer. Com essa clareza, entender que, se quiser fazer algo, vai ter que ser com menos que 100% de certeza.
E então é hora de agir e “se obrigar” a evoluir.
Explico: se os fatores externos não forem suficientes para te fazer inovar, aceitar pequenos riscos ou simplesmente sair da inércia, talvez vá precisar se forçar, se comprometendo com pessoas, diminuindo os prazos, criando uma rotina fixa em casa, redefinindo as prioridades, mesmo que seja difícil.
Além desses fatores, sobre os quais já falei em colunas anteriores, aumentar o grau de dificuldade, prometendo uma entrega acima da que faria normalmente. Sim, colocando pressão em si mesma — entende por que indiquei só partir para esse tópico após checar a saúde emocional e tiver uma boa aceitação dos fatos?
Uma recomendação do psicólogo Benjamin Hardy é se imaginar competindo com alguém que seja maior que você em competência, reconhecimento, tempo de estrada… Estude esse tipo de concorrência, a mais competente que você, e tente fazer algo que a supere. Crie um jogo interno para se motivador, Benjamin diz. É um catalisador de performance.
E performance é aquilo que você decidir.
Por isso, antes de qualquer técnica de produtividade vem a questão: o que é produtividade pra você? Para mim, é fazer mais do que é mais importante, e isso tem muitas nuances, objetivos claros e, sim, muda conforme o cenário. Inclui autopressão, como ensino aqui, mas também descanso, pausa e respeito pela montanha russa emocional em tempos difíceis.
Atualize o seu software e com ele o conceito de produtividade, com o nível de certeza e equilíbrio que você tiver. Sairemos com bons aprendizados disso.
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Entender que é possível, sim, mudar a si mesma é o começo da postura flexível, que conduz a mais aprendizado e evolução pessoal (Foto: Pexels)
Estava lendo um livro no fim de semana que me chamou a atenção pela maneira diferente de falar sobre adaptabilidade, que tem sido apontada — por óbvio — como uma das mais importantes soft skills do momento, mas também habilidade essencial para o futuro.
No livro, chamado “Força de Vontade Não Funciona”, o psicólogo Benjamin Hardy fala sobre as nossas preferências de aprendizagem, ou simplesmente “o nosso modo de fazer as coisas”, e como isso interfere na maneira como lidamos com tudo! Basicamente tendemos a querer sempre continuar no mesmo “modo” e evitamos sair dele.
E, quando as situações se alteram, empacamos porque não queremos, porque é desconfortável ou porque simplesmente não acreditamos que podemos nos adaptar.
Olha o que o Benjamin diz sobre ser momentos ruins e ser uma pessoa flexível:
“Você aprende coisas novas ao se colocar em situações novas e difíceis que o obrigam a se tornar um aprendiz flexível. Essa é a essência e a base de ser adaptável. Aprender coisas novas exige errar, parecer e se sentir burro e ter que reconstruir nossa visão de mundo para ver as coisas de uma perspectiva mais elevada. Portanto, aprender coisas novas é muito difícil, e é por isso que as pessoas evitam fazê-lo”.
Segundo o autor, para sair dessa toada de apenas querer confirmar o que sabe ou acha que sabe, é preciso se comprometer a mudar, com uma dose de fé (acreditar que consegue mudar se quiser e tentar o suficiente) e mentalidade de crescimento (ou mindset de crescimento, estudado pela pesquisadora Carol Dwek, um jeito flexível de ver a vida ou os fatos, acreditando que nada é fixo, imutável).
As pessoas com uma mentalidade fixa têm muita dificuldade de aprender e, portanto, de tentar coisas novas e se adaptar a situações adversas — afinal, em geral, evitam tudo o que contrarie suas crenças até porque não estão abertas a mudar de opinião ou se abrir a novas ideias.
E a partir desses conceitos podemos começar uma reflexão: a quantas anda sua abertura para o novo?
Mais de 50 anos de pesquisas na área mostram que temos um estilo de aprendizagem dominante, ao qual nos apegamos, diz Benjamin.
Mas podemos trabalhar com muitos outros estilos — e é especialmente para prosperar e nos adaptar a situações desafiadoras que precisamos trabalhar com opções de aprendizagem diferentes das que estamos acostumadas.
Reproduzo aqui a lista do autor com alguns desses estilos de aprendizagem:
Em vez de simplesmente se apegar a fazer as coisas “do seu jeito”, a ideia é parar de pular todas essas etapas de aprendizagem e usá-las todas para enriquecer o seu processo de aprendizagem e se tornar uma pessoa mais flexível. Adaptável e bem-sucedida no que se propõe.
Antes de avançar, cabe a pergunta: você consegue flagrar qual seu estilo dominante de aprendizagem? E em qual especialmente está mais falhando, mas poderia te ajudar a superar os desafios pessoais e profissionais que vem enfrentando nessa quarentena?
Trabalhe com o que ama e… bem, tenha mais satisfação, porém não necessariamente menos problemas no dia a dia (Foto: Pexels)
Partindo da mentalidade de crescimento e dos estilos de aprendizagem, listo a seguir um mix de dicas do autor de “Força de Vontade Não Funciona” com minhas para avançar no processo de aprender e consequentemente melhorar sua adaptabilidade — ou flexibilidade, ou resiliência, ou simplesmente sua capacidade de lidar melhor com as novas situações, por mais difíceis que sejam.
Revisar planos, adiar decisões, inovar e testar ideias: pense nesses 4 verbos para sua carreira na quarentena (Foto: Pexels)
Frase que ouvi muito nas últimas semanas: “ah, justo agora que eu estava com tudo planejado acontece isso!”. Ou “isso veio bem quando eu finalmente tinha decidido o que fazer…”. Ou ainda “agora que estava dando certo…”.
É a vida, a gente realmente não controla todos os fatores que a envolvem. Nunca controlou.
Controlamos o que planejamos, como nos sentimos, como reagimos ao que acontece, mas não o que está fora da nossa esfera de ação. Sempre foi assim, a gente só não gosta de pensar nisso e admitir que não somos os donos do planeta. A pandemia veio nos lembrar da nossa parcela de controle numa dimensão toda nova.
Mas tomar consciência do nosso limitado poder de ação em termos MACRO também significa retomar a consciência do nosso grande poder de ação em termos MICRO, individuais.
Isso não é pouco. O isolamento de cada um, por exemplo, mostra como cada indivíduo tem muito poder coletivamente; ideias que nasceram pequenas (de uma cabeça, afinal) também têm contribuído para grupos inteiros por meio de ciência, ações para assistir os mais carentes e por aí vai. Ou seja, um indivíduo em suas microdecisões pode impactar no macro.
A mesma lógica vale para a autogestão: pequenas providências podem impactar positivamente sua carreira mesmo em um momento tão delicado.
Em vez de se paralisar e vitimizar com o cenário (que não controla), entenda o que pode controlar e fazer hoje. Para ajudar no processo, proponho uma espécie de guia para repensar e refletir sobre seus caminhos profissionais no meio do furacão.
Quando falo da parcela que podemos ou não controlar, sempre lembro do Stephen Covey, que cunhou o Princípio 90/10. Segundo essa ideia, apenas não controlamos 10% do que acontece da nossa vida; os outros 90% estão nas nossas mãos, porque têm a ver com a forma como reagimos ao que nos acontece.
Embora em tempos de coronavírus os 10% nos soem bem mais do que 10, é possível aplicar a proporção considerando que, de fato, há uma boa parcela que nos cabe controlar — desde que já tenhamos condições mínimas para viver bem, comida e teto, evidentemente.
Ou seja, mesmo em um cenário incontrolável e indesejado, você pode controlar como reage a ele, o que faz com ele, como se coloca diante dele. Ou ao menos tentar. Todos os seus planos podem ter caído por terra e as decisões que havia tomado serem inúteis na atual conjuntura — isso você não controla.
Mas uma vez que parou de brigar com isso, pode sacudir a poeira e se perguntar:
São perguntas aparentemente simples, mas complexas porque envolvem repensar todas as certezas que tinha até então. Isso dói, provoca reações de negação, raiva, desânimo… E é bem aqui que pode tentar pensar nos seus 90/10: 90% da sua vida você pode controlar. A circunstância mudou drasticamente, mude agora a parte que lhe cabe, começando pelo que controla.
Comecei por aqui, porque essa lógica pode trazer um novo fôlego para a sua rotina e o seu repensar profissional na crise.
(FOTO: PEXELS)
Mesmo se abraçou o conceito e quer aplicar a proporção 90/10 agora, pode encontrar dificuldade se quiser tornar isso um processo decisório simplista, binário, mecânico.
Explico: escolher adotar a postura de controlar o que pode e não sofrer tanto pelo que não pode é salutar agora, mas não funciona como um mecanismo de “negacionismo emocional” nem social, de fingir que nada grave está acontecendo lá fora, que isso não afeta sua vida ou que não importa. É um processo complexo, com altos e baixos.
Sentimos uma série de novos e velhos medos, ansiedade, angústia, frustração, raiva, desilusão com tudo o que a Covid-19 acarreta. Essas emoções negativas fazem parte do crescimento emocional micro (meu e seu, como indivíduos) e macro (a sociedade, seus valores, seu ritmo, tudo sendo repensado).
Por isso, sentir tristeza e as demais emoções negativas agora é parte do processo.
Na prática, é sobre desenvolver uma consciência diária sobre a montanha russa emocional que a pandemia tem nos causado e então partir para os 90/10 do tópico 1. Porque até para combater as emoções ruins é mais eficiente estar ciente delas. Você pode escrever, conversar com alguém ou apenas refletir sobre seus sentimentos, só não fingir que não existem.
E então entenda exatamente:
Entendeu que é OK sentir medo agora? Sacou que tem uma boa parcela da sua vida que pode controlar e que ela pode ter um impacto maior do parece? É hora de agir, e por isso sugeri quatro verbos aqui, embora um deles seja adiar — já explico.
Agir não é se pressionar para ter uma solução “lacradora”, ganhar muito mais dinheiro, “sair ganhando” dessa. Agir é não travar, não cair numa inércia que te faça se sentir pior consigo mesma, é fazer o que for possível (alô, proporção 90/10) e encontrar soluções ainda que minúsculas que te façam bem e/ou aos outros.
Entende? Não é pressão.
É ação consciente que contribui para a saúde mental enquanto trabalha ao menos um aspecto da carreira — e se você me lê há tempos já sabe que está tudo conectado, vida privada e profissional.
As 4 ações essenciais para a carreira na coronacrise, para começo de conversa, seriam:
Já vi e falei dessa ideia antes, mas voltei a escutá-la num bate-papo com a Elizabeth Gilbert, a autora de Comer, Rezar, Amar, no perfil do TED. Ela falava sobre criatividade, lidar com a ansiedade por causa do coronavírus e tentar tocar os projetos diante de tantas incertezas.
Em determinado momento, comentou que deveríamos “seguir a curiosidade” em vez de pensar em um propósito maior, um conceito que, para ela, traz muita angústia — e que, pelo que já notei, pode trazer mesmo.
Como pensar em propósito agora sem ficar ansioso? Principalmente se estiver se sentindo paralisada e perdida? Difícil mesmo.
Ainda que propósito, conceitualmente, nada mais seja que usar seus talentos e habilidades para fazer algo por si mesmo, pelo outro ou pelo mundo. Não precisa ser algo disruptivo, mas apenas calcado em quem você é.
No entanto, se você não sente que encontrou seu propósito na vida ou não sabe adaptá-lo aos novos tempos porque, por exemplo, não enxerga aplicação dos seus talentos ao cenário atual, pode usar a tática que a autora propõe: siga sua curiosidade.
Começando talvez assim:
Vá nessa linha e veja para onde ela te leva, certificando-se de se cuidar no caminho, física e emocionalmente.
O que chamo de plano de autodesenvolvimento pode ser entendido como um plano paralelo ao plano de carreira ou, ainda, como uma alternativa a ele. Se tudo mais estiver em suspenso, as decisões adiadas por tempo indeterminado, ainda assim será possível tentar evoluir e tornar esse processo rico e prazeroso.
Dentro do que é possível fazer agora certamente figura a possibilidade de criar um método próprio para o autodesenvolvimento, a prática do chamado lifelong learning.
Um planejamento que envolva os temas com os quais quer ter contato pela primeira vez, os assuntos que valem um olhar mais aprofundado ou contato diário, as searas profissionais e os hobbies com os quais deseja flertar.
Tudo isso num plano organizado para a sua evolução pessoal e profissional, que pode trazer ideias sobre novos caminhos a seguir — embora não tenha esse objetivo necessariamente.
O fato de ser um processo prazeroso, porém, não quer dizer que seja caótico. Sugiro que você organize o seu, usando os seguintes tópicos:
Todos os tópicos desde texto caminham juntos e funcionam melhor se você organizar a rotina o máximo possível para encaixar as atividades que escolheu por prazer ou para se aprofundar em algo profissional.
Lembre-se ainda de deixar espaço para o nada, todos os dias. Organização e disciplina são para te trazer mais liberdade e satisfação com a vida. Isso também contribui muito para autodesenvolvimento :-).
]]>Pró-disciplina: crie rotinas para automatizar o que não ama fazer e aceite que o trabalho chato faz parte (Foto: Pexels)
Disciplina é uma palavra que já vem carregada de significados negativos, em geral, chatice, sofrimento, excesso de regras. Muitas vezes, também é algo do tipo “é pra mim”ou “não é pra mim”, tenho ou não tenho, sou ou não sou disciplinada. E essa é uma das maiores mentiras que você pode contar para si mesma, especialmente em tempos difíceis.
Disciplina é algo que se desenvolve e que, portanto, está ao seu alcance.
É também uma das chaves para se sentir minimamente no controle em situações fora do controle — o que, por sua vez, ajuda a diminuir a ansiedade e os vários medos que crises como a atual geram. Isso independentemente de você estar ou não trabalhando em casa no período de isolamento.
Mas, claro, quando a gente precisa fazer home office, seja em trabalho formal ou não, cuidar da gestão do próprio tempo e entender o que priorizar, a disciplina ajuda.
Por isso, listo aqui quatro tópicos da criação da disciplina, que não têm uma ordem fixa a ser adotada; são complementares. E, como não existe receita milagrosa, enfatizo: não é do dia para a noite. Você começa agora e aos poucos vai se percebendo mais disciplinada.
E aí acabou? Não, disciplina é o trabalho de formiguinha por excelência. Mas vale a pena porque vai te ajudar, além do que citei acima, a se sentir mais eficaz e confiante.
Já publiquei texto antes explicando como o simples hábito de arrumar a cama todos os dias pode ajudar na sensação de ter um mínimo de controle mesmo em situações difíceis e aumentar a confiança.
Também já falei inúmeras vezes o que justifica o sucesso de propostas como o “milagre da manhã”, o clube das 5 etc: o fato de propor uma rotina matinal bem estabelecida aumenta a sensação de autoeficácia e faz o dia render mais.
O que está por trás de tudo isso é a criação de hábitos saudáveis, o poder da repetição e o uso dela como gatilho para praticar outras atividades engrandecedoras, como se exercitar, fazer um diário de gratidão ou meditar.
Na verdade, criar rotina é uma maneira antiga para se organizar mentalmente e na prática. É a base da disciplina.
Em tempos de quarentena, você pode tentar manter dentro do possível os hábitos que já tinha, trazendo uma confortável sensação de familiaridade, ou criar novos rituais, que tornem o momento de isolamento, se for o seu caso, mais palatável.
Não é sobre se cobrar para ser hiperprodutivo, muito menos sobre lotar a agenda de novas demandas. A proposta da criação de novos rituais é usá-los como gatilho, como um impulso para fazer as atividades que sejam de fato importantes agora.
Rotina de trabalho, com começo, meio e fim. Rotina de estudos, idem. Rotina de relaxamento, de se informar e assim por diante.
Crie sequências de 3 a 5 pequenos atos e faça todos os dias no mesmo horário. Que seja lavar as mãos (1), fazer um chá (2), organizar a mesa ou o canto de trabalho (3), olhar 1 minuto pela janela (4) e agradecer em voz alta por algo bom (5) antes de começar o trabalho em si.
Banal, simples mesmo. Sua eficiência consiste em ser feita regularmente para “automatizar” o processo de começar a trabalhar.
Pode fazer uma sequência pré-exercícios e outra para momentos de muita ansiedade ou antes de dormir, por exemplo. Pense no que faz sentido para a sua vida hoje e lembre que a chave é a repetição. Parte da disciplina virá daí.
Li recentemente uma reportagem da revista Entrepreneur sobre o ator e empreendedor Mark Wahlberg, conhecido por ser hiperdisciplinado.
Na entrevista, ele conta que disciplina não é algo natural dele, mas uma escolha. Antes, ele conseguia ter disciplina para fazer as coisas que amava, mas não tinha tempo nem vontade para as tarefas desagradáveis, até que um dia percebeu a necessidade de ser disciplinado em todas as atividades se quisesse ser bem-sucedido.
Hoje, raramente sai da rotina que estabeleceu para si. Dedica o mesmo rigor para fazer o que ama e o que detesta, e o faz sempre, tentando adaptar seus rituais e horários ao máximo mesmo quando está gravando um filme.
É organizado no tempo que dedica a todas as atividades, e um dos “corações” do seu método autodisciplinar é acordar cedíssimo (às 3h30) e fazer exercício — que, por sinal, ele diz que não gosta. Mark fala que gosta é do resultado que o exercício lhe traz, assim os frutos da rigidez com horários para gerir seus negócios (ele tem vários).
Trazendo pra cá, talvez a melhor sacada seja entender que para ter disciplina e fazer mesmo aquilo que não gosta a gente precisa ter em mente com muita clareza o resultado que deseja extrair daquilo e fazê-lo consistentemente.
O que esse hábito não agradável te proporciona? Como vai ser se conseguir se manter nessa toada por meses; afinal, que benefício terá?
Ou, mais especificamente, pode fazer perguntas como: Como eu gostaria de estar no final dessa quarentena? Como esse hábito vai me ajudar a passar por essa fase difícil?
E a partir daí definir um hábito a ser criado, com foco no resultado. Pode ser exercício, meditação, alimentação saudável, beber mais água, estudar todo dia, criar conteúdo todo dia nas redes sociais, ficar menos online… O que for tornar essa fase melhor e trouxer o benefício que espera lá na frente.
Planejamento + confiança + networking = transição perfeita
Muito se falou sobre vulnerabilidade, graças a Brené Brown, uma das mais reconhecidas e populares TED speakers da atualidade.
Pois essa é a hora em que estamos todos sendo confrontados com a nossa vulnerabilidade, não só como indivíduos mas como sociedade. E talvez, mesmo em isolamento, sendo obrigados a olhar para além das nossas bolhas.
Na prática, isso gera medo, ansiedade, uma série de desconfortos dos quais tendemos a querer fugir. Mas será que é o melhor caminho?
Não necessariamente. Negar a existência do medo e a gravidade da situação não é uma técnica antipânico, mas uma autoilusão com prazo de validade.
Para desenvolver autodisciplina numa fase como a atual, precisamos aprender a ler o cenário e a nós mesmos, aprender a lidar com as próprias emoções.
Porque, por mais que os tópicos 1 e 2 sejam eficientes, eles dependem da saúde emocional. Ninguém consegue, por mais motivado por resultado que esteja, pular da cama cedíssimo, fazer exercício e trabalhar superbem o dia todo se não estiver minimamente em paz com suas emoções boas e ruins. Aceitando sua condição humana, sua fragilidade e suas limitações diante do cenário.
Fazer planos e tentar desenvolver a disciplina não é sentir-se uma máquina orientada à realização. Isso simplesmente é irreal em meio a uma pandemia!
Por isso, abrace suas dores e angústias atuais como parte do processo e aproveite para desenvolver a famigerada inteligência emocional — a capacidade de lidar com as suas emoções e as dos outros. A começar pelo simples reconhecimento: “pois é, estou com medo. Por que me sinto assim? Há algo que eu possa fazer sobre isso?”.
Sugiro, além de fazer terapia online caso os medos e as angústias sejam grandes demais (sim, procure ajuda profissional!), complementar o processo de autoconhecimento escrevendo as respostas para as perguntas que citei antes. Escrever e falar sobre o que sente ajuda a se entender melhor e sair da negação do sentimento. E essa escrita pode fazer parte de uma das rotinas que descrevi no início.
Observe suas emoções, cuide delas, procure ajuda de um psicólogo se sentir que precisa e tente cultivar as boas emoções com gratidão e restrição de horas lendo notícias por dia (isso é uma proposta alinhada com a Psicologia Positiva).
Olhar para a saúde mental é o passo número zero da disciplina, que permeia todas as etapas do desenvolvimento de uma rotina produtiva.
Ter disciplina é dizer não para tudo aquilo que não se encaixa na rotina estabelecida. É óbvio que sempre vamos abrir exceção, mas uma pessoa disciplinada entende o seguinte: o que faz de uma exceção uma exceção é ela não acontecer toda hora, é ela não ser a regra.
Por isso, repito, se resolver desenvolver disciplina, nem que seja “só” para criar uma rotina benéfica no momento, vai ter que dizer não.
Pode desagradar a pessoa com a qual mais convive porque está mudando os planos, pode vir a negar alguma oportunidade que não se encaixa com o que deseja, pode precisar dizer não para um plano pessoal maior em nome do bem-estar agora…
Todos estamos experimentando um pouco disso, em maior ou menor grau, afinal.
Para quantos objetivos está tendo que dizer não agora? Tem muito aprendizado aí.
Além de aprender a rejeitar o que não quer para se manter consistente, aprender a se adaptar, a alterar o que pode quando o que não depende de você mudou drasticamente.
Nesse caso, é dizer não para a mania de controlar tudo. Tente controlar a sua rotina, a disciplina está aí pra isso, e já terá feito muito por si mesma.
]]>Estudar, trabalhar e se divertir como uma só atividade, que te deixa mais criativa. Parece uma boa meta, não? (Foto: Pexels)
Quanto tempo você anda destinando a lazer, cultura, estudo, trabalho, família, amigos e sei lá mais o quê nesses dias de quarentena? É como se fosse tudo-ao-mesmo-tempo-agora?
Talvez você sinta que sim, se fizer parte do grupo que está se isolando em casa. E não necessariamente isso é uma coisa ruim. Essa “confusão” entre as diferentes esferas da vida pode ser, isso sim, uma boa forma de ativar a criatividade.
Digo isso remetendo às ideias do sociólogo italiano Domenico De Masi, que em 1995, muito antes da Covid-19 e suas consequências, falava do conceito de ócio criativo, no livro homônimo, e o vinculava ao trabalho remoto.
Em um texto recente publicado na Folha de S. Paulo, o autor comentou a situação na Itália e voltou a falar no que classificou como a transformação do “ócio depressivo em ócio criativo, conjugando a leitura, o estudo, o lúdico com a parcela de trabalho que é possível desempenhar dentro do regime de ‘smart working”.
São tempos férteis para o ócio criativo. Mas antes de pensar em como ele funciona na prática, vamos entender o conceito.
O ócio criativo decorre da junção entre estudo, trabalho e diversão. E ócio, para De Masi, não é não fazer nada (o tal dolce far niente italiano). “É ócio no sentido de atividades não físicas, como filosofia, política e estudos.”
Trabalhar, aprender e se divertir ao mesmo tempo, entende? É, por exemplo, a atividade de dar aula para um professor que ama o que faz.
“O ócio criativo é aquela trabalheira mental que acontece quando estamos fisicamente parados, ou até dormindo à noite. Não é não pensar. Significa não pensar com regras obrigatórias, mas é um ócio alimentado por estímulos ideativos e interdisciplinaridade. (…) O cérebro precisa de ócio para produzir ideias”, escreveu ele em 1995.
Ok, e como utilizar o conceito de ócio criativo em tempos de isolamento? Primeiro, eu diria, redimensionando o papel do trabalho em si na rotina.
Combata o “overtime”. O fenômeno que De Masi chama de “overtime”, esticar a jornada de trabalho mais do que deveria, mina a criatividade e prejudica as emoções, porque limita a convivência familiar — mesmo que esteja todo mundo em casa, porque você estará de corpo presente, mas focada em outra coisa.
Resista, se puder, a essa tendência, mesmo se o seu gestor ou a sua gestora ainda forem simpáticos a esse conceito antigo de produtividade. Você pode ter uma longa quarentena pela frente e precisa otimizar seu home office.
Se puder, considere reduzir os dias de jornada. Reduzir a jornada clássica não só em horas, mas em dias da semana. Se for autônoma, por exemplo, terá mais facilidade de aderir à ideia. E não se preocupe: mesmo não trabalhando todo dia, as ideias continuarão com você, então se algo bacana para o trabalho surgir, é só anotar e começar a atuar.
Observe: sua concentração pode estar maior. Em home office, a gente tende a trabalhar mais tempo sem perceber, porque passa a ser menos interrompida por colegas e pedidos externos e a se concentrar mais. É lei? Não. Mas é comum acabar percebendo que rende muito mais em menos horas e que, mesmo assim, estava esticando a jornada. Como saber se é o seu caso: observando-se.
Monitore a rotina recém-criada para ajustá-la. Fazer a gestão do seu tempo, mas também e principalmente estar atenta a como tem utilizado esse tempo.
Mais do que nunca é hora de organizar a agenda do dia, estabelecer as tarefas prioritárias (sozinha ou alinhando com a gestão) e estar atenta a si mesma.
Está conseguindo trabalhar em blocos de atividades semelhantes? Levantou-se quantas vezes da cadeira? Quantas vezes foi interrompida? Quantas espiou o celular sem precisar? Bebeu água? Quanto tempo está levando para as mesmas tarefas que fez ontem ou dias atrás? Fez pausas para estudar algo? Divertir-se? Praticar um hobby? Como se sentiu e trabalhou depois?
Você pode tomar nota disso tudo durante alguns dias para se monitorar e analisar o que pode mudar. Escrever todas as atividades com horário é uma técnica conhecida de gestão de tempo, que ajuda a trazer consciência à rotina em casa e alterar o que for preciso.
Negocie a jornada por entrega. Caso haja abertura e sua área de atuação permita, essa será uma das maiores mudanças rumo à prática do ócio criativo. Em vez de monitorar a produtividade por horas trabalhadas, monitorá-la por entrega, ou seja, pela qualidade do trabalho executado, finalizado em determinada data.
Isso permite que você alterne com mais liberdade as tarefas do trabalho convencional com as lúdicas e de estudo, que semeiam as ideias, ativam a criatividade e resultam em melhorias em tudo o que faz.
E aí, sim, podemos entender quais são as providências pró-ócio criativo na prática.
Aumente a sua jornada de “não trabalho”. Não custa repetir: produtividade não é ficar ocupado o tempo todo, é fazer mais do que é mais importante. Ao que pergunto: o que é mais importante agora pra você?
Imagino que tenha te vindo à mente mais do que os números de entrega ligados ao trabalho, certo? A saúde importa, a mente sã importa, a família importa, o bem-estar coletivo importa e assim por diante. Você sabe qual a sua resposta.
Trago essa ideia para redimensionarmos o tempo e a energia que dedicamos ao “não trabalho” agora. É uma excelente fase para entender como ele não é fútil!
Todas as atividades que não são trabalho, de ficar no sofá com alguém da família que está em quarentena com você a se engajar num projeto social virtualmente, podem ser tão ou mais importantes no momento.
Portanto, se puder, aumente e desfrute sua jornada de “não trabalho”. Pode não parecer, mas ela faz parte da equação de ócio criativo e pode perfeitamente continuar em posição de destaque quando a situação em torno da Covid-19 arrefecer.
Abrace hobbies sem culpa e sem pressa. Fácil imaginar como praticar um hobby amplia a visão, descansa a mente e contribui para aumentar a criatividade.
Pense em uma atividade que entretenha, distraia, dê prazer e não venha com intenção de ser útil. Aprender um instrumento, ler livros físicos ou com o dispositivo de leitura offline, fazer alguma atividade manual, desenhar, pintar, plantar, jogar…
Comece a fazer aquilo que sempre teve vontade de tentar em casa e não se pressione para performar maravilhosamente — não é o objetivo!
Aceite o descanso, mesmo em horas atípicas. Descansar a mente é parte de torná-la mais criativa, De Masi já apontava nos anos 1990, e tantos estudos vêm comprovando desde então.
Além de prezar pela qualidade do sono, falo aqui das pausas para descansar durante o dia, não necessariamente para uma soneca, mas justamente para abraçar uma das atividades de ócio criativo sobre as quais falo aqui.
Faça as pazes com as pausas. Sob essa ótica mais ampla, elas fazem parte do trabalho.
Cuide para não cair no monotema. Procure fontes confiáveis de informação e tente se manter com elas, uma ou duas vezes ao dia, fazendo uma espécie de dieta de notícias.
Mais do que compreensível que você queira saber tudo o que puder sobre o coronavírus, mas fazer isso o dia todo sem parar não ajudará muito na sua sanidade mental nem fará um serviço por sua produtividade e sua criatividade. Informe-se de forma a manter também espaço para aprender sobre novos temas.
Aliás, os males do monotema valem para a espera profissional também.
Para conduzir sua mente a um estado de ócio criativo, procure saber de diversos assuntos, com pluralidade de disciplinas. Essa lógica multidisciplionar ajuda no processo criativo.
Faça sua curadoria de arte, cultura, estudo e lazer. Vamos chamar aqui de atividades e atitudes pró-ócio criativo todas essas esferas não diretamente relacionadas à principal atividade que você faz para ganhar dinheiro. Todas as formas de arte e cultura, de pintura a audiovisual e livros, todos os temas de estudo que te interessem, todas as formas de lazer que puder fazer nesse período. Sim, o passatempo também tem valor.
É sobre começar a ter um olhar mais cuidadoso para essas esferas, usando a sugestão de De Masi de observar a pluralidade e a interdisciplinaridade para enriquecer seu repertório.
Que temas te provocam curiosidade? O que te encanta na arte e te faz ficar com vontade de ver mais? Que assunto te intriga? O que te faz rir ou se encantar?
Liste os assuntos e os materiais que pretende consumir nesse período e livre-se da culpa de dedicar muitas horas à mais banal das tarefas, sabendo que faz parte do ócio criativo!
Essa é uma das mais deliciosas listas de se fazer e pode ser a diferença entre você se sentir entediada nessa fase ou em pleno processo de aprendizado e criando — uma baita diferença!
Apenas uma ressalva nesse tópico: não confundir fazer uma bela curadoria de conteúdos com lotar suas horas livres com eventos online ou lives de Instagram para assistir, cursos para fazer, mil hobbies para iniciar. Escolha o que te interessa de fato.
Há espaço para essas atividades, para o trabalho e para fazer nada também, o espaço vazio na agenda não é um vilão.
Mesclar momentos de pressa e calmaria faz parte, defendeu lá atrás De Masi, e faz ainda mais sentido nesse período. Então fazer a curadoria do que estou chamando de atividades e atitudes pró-ócio criativo não significa tornar isso um trabalho, no sentido de obrigação, labuta, pressão, atividade que te leva ao estado de exaustão.
Entendido?
Encontre suas atividades de “flow”. Por fim, dedicar-se a si mesma — eis uma das atividades mais importantes sob a ótica do ócio criativo, assim como dedicar-se a família, amigos e sociedade, ainda que remotamente.
Aqui destaco especialmente a investigação do seu estado de flow, ou de fluxo, termo cunhado pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi para falar sobre o que chama de engajamento criativo. É como se você perdesse a noção de tempo e de espaço enquanto realiza algo, o que aumenta a confiança, ajuda a lidar com situações difíceis e melhora os relacionamentos.
Reflita: que atividades te fazem se sentir assim, sem nem perceber o tempo passar e com prazer? Inclua mais delas na rotina!
Ao final, conhecer o que te leva ao estado de flow ajuda a dosar melhor as atividades que fazem sentido para o seu processo de ócio criativo, levando a mais produtividade no trabalho e fora dele e principalmente a mais felicidade.
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Se não está acostumada a trabalhar de casa, pode estranhar e se distrair com a “liberdade”. Tente manter os horários de trabalho e ir se concentrar em um ambiente fechado (Foto: Pexels)
Você já está em isolamento por causa do coronavírus? A recomendação de cientistas e autoridades de saúde é de que deveria estar em casa, mesmo se estiver saudável, caso possa fazer isso. A “autoquarentena” é recomendada para diminuir o ritmo de contaminações e, portanto, poupar o sistema de saúde a fim de que possa dar conta da pandemia ao longo dos próximos meses.
Para muitos, é o primeiro momento de trabalhar em home office por mais que um dia. Por isso, decidi preparar esse apanhado de dicas de como aumentar a produtividade trabalhando de casa.
Eu trabalho somente em home office há mais três anos e auxiliei muita gente a se acostumar com esse modelo. O que posso dizer logo de cara? Não é nem o paraíso que muita gente pinta nem o antro de procrastinação que outros fazem crer. É apenas um jeito de trabalhar, totalmente possível de ser produtivo para quando você trabalha solo, empreende ou trabalha com equipe remota.
Por onde começar? O que fazer? O que evitar? As principais dicas que eu aplico e estudei nos últimos anos com experts em produtividade aqui.
Não existe regra de produtividade vinculada a roupa. Ela precisa ser confortável e fazer você se sentir bem, ponto. Então claro que você pode render maravilhosamente bem de pijama o dia todo.
E digo mais: inevitavelmente você vai fazer isso algum dia.
Mas para muitas pessoas o simples ato de se trocar, como se fosse para o escritório, ajuda a entrar no “modo trabalho” e aumenta a concentração. Tente se você se considera uma pessoa procrastinadora ou distraída.
Não precisa ser “a” vestimenta, tá? Basta tirar o pijamão, lavar o rosto e talvez colocar um calçado. Tirar e colocar a roupa de trabalho vai ajudar a virar a chavinha no fim do dia também.
E você vai entender como esse virar de chave importa até para a saúde mental. É sobre evitar a sensação de estar trabalhando o dia todo e associar sua casa só a isso. Se vai passar semanas basicamente em casa, vai precisar ter ali um espaço multi, que proporcione concentração, mas também relaxamento e prazer.
Ter flexibilidade não significa não ter horário.
Já falei muitas vezes aqui na coluna sobre o poder de criar rotinas. Vale para o trabalho e também para pegar firme no exercício físico, estabelecer um tempo de estudo etc.
Para o tema de hoje, o que interessa é tentar manter horários fixos para acordar, tomar café, iniciar a jornada de trabalho, pausa para almoço e assim por diante.
E criar pequenos rituais, principalmente para superar a enrolação para começar o dia. Uma pequena rotina matinal ajuda nisso: escovar os dentes, tomar café, talvez meditar ou fazer alguns exercícios e ir para o lugar que designou para trabalhar com um copo d’água.
Claro que não precisa ser essa sequência: é uma ideia para você ver quão simples pode ser a rotininha pró-home office matinal.
Ah, e a hora de terminar é tão importante quanto a de começar. Você vai estranhar no início, mas depois vai se acostumar — isso é rotina, o seu costume em fazer as coisas do mesmo jeito, quase sem pensar.
Que horário você terminaria na rua? Pode terminar no mesmo para início de conversa. Com o tempo, talvez — e isso é um palpite baseado na minha experiência e de clientes –, vai perceber que faz a mesma quantidade de coisas em menos tempo e pode terminar antes.
Eu termino no máximo 19h porque rendo muito durante o dia e uso as técnicas que estou ensinando aqui.
Você vai perceber seu número de fim de expediente ideal logo, logo. Por ora, ponha um despertador e vá desanuviar.
Técnica das mais certeiras antiprocrastinação, cunhada por Brian Tracy, consiste em começar pelo que é mais difícil ou chato. Aquela tarefa que não quer fazer e que ativa aquela vontade de espiar o celular, a TV, falar com alguém… fazer tudo antes de começá-la.
Pois antes de terminar o expediente em casa, programe-se para começar o dia seguinte justamente com ela! De manhã seu nível de concentração e energia costuma ser mais elevado, então ela vai doer menos e ser concluída com mais rapidez e menos erros.
Fora que a sensação de se livrar vai ser maravilhosa e talvez você até se empolgue e queira emendar outras funções igualmente desagradáveis ou complexas na sequência.
Por experiência própria, posso te dizer que tendemos a almoçar muito rápido quando trabalhamos em casa. Não tem conversa, não tem por que demorar, sabe? Mas a pausa para o almoço é um divisor importante para o dia e pode te ajudar a manter o ritmo do escritório.
Como faz para lembrar de almoçar sempre na mesma hora? Coloque alarme e escute sua fome — como expliquei na coluna na qual falei sobre os hábitos vindos da Ayurveda que ajudam a preservar a saúde.
Mantenha seu almoço sempre no mesmo horário e aproveite para comer comida caseira, mais saudável nesse período.
O que eu faço: normalmente uso o pós-almoço para estudar algo ou ver vídeos do meu interesse. Também dou uma leve caminhada quando posso (se for tentar isso, priorize lugares sem aglomeração, claro).
O mesmo vale para as pausas que faria para um café ou lanchinho se estivesse no sistema tradicional de trabalho. Terminou algo importante, tome um chá ou se espreguice, levante um pouco! Aqui a dica é mais sobre a pausa do que sobre a comida, lógico.
Dica autoexplicativa, mas não custa: você mudou os hábitos e pode negligenciar a hidratação no meio disso tudo. Não cometa esse erro, a concentração depende de você ter bem hidratada, assim como todo o funcionamento do corpo. Leve água para sua mesa se trabalho ou use apps e alarmes para te lembrar que é hora.
É simples: no seu trabalho em situações normais você trabalha com a TV ligada, o som alto ou uma porção de distrações por perto? Caso não seja assim por lá, não tente isso em casa!
Você vai demorar o dobro do tempo para fazer as mesmas coisas e vai cometer mais erros porque simplesmente não existe multitarefa com a mesma eficiência da monotarefa!
Estima-se que se começarmos uma tarefa e a interrompermos, demoramos 500% mais tempo para terminá-la e ainda aumentamos a possibilidade de cometer erros. E interrupção pode ser algo muito sutil, como a espiadinha no vigésimo episódio de “Friends” que você decidiu “deixar rolando” na televisão.
O que é distração pra você? As pessoas que moram com você (ver item 16)? A TV? Os afazeres de casa? O celular? Reconhecer o que é gatilho de distração pra você ajuda a combater.
Um dos que mais vejo atrapalhar, além da TV e das pessoas que moram junto, é a tal da pia de louça suja esperando.
Não estou dizendo para não lavar, mas quando se trabalha em casa é preciso encaixar os afazeres na agenda, entende? Encaixe lavar a louca depois do almoço, por exemplo. Limpar a casa na segunda e quinta à tarde, mais um exemplo. Estabeleça dias e horários fixos para dar conta das atividades que sempre estarão ali, mas não caia nessa de começar a “dar um tapa” na casa no intervalo, senão as interrupções vão atrasar seu trabalho mais do que parece.
Quanto ao celular, é hoje o maior ladrão de atenção, então simplesmente afaste-se dele durante os momentos de concentração. Eu escondo o celular atrás do computador e para mim é suficiente. Para outros, é melhor largá-lo em outro cômodo. Não é exagero, tá? Deixá-lo no seu campo visual aumenta comprovadamente a ansiedade e diminui o foco.
Um minuto gasto com planejamento pode economizar em média de 5 a 10 minutos na execução, dizem especialistas em produtividade.
Logo, parar para pensar no que é prioridade e planejar o que vai fazer pode ser a atividade mais importante do seu dia. Isso é fundamental quando está no escritório também, mas em casa é a diferença entre ficar zanzando pra lá e pra cá até começar ou manter o foco.
É simples: basta fazer a lista de tudo o que precisa fazer e se perguntar (ou alinhar com equipe ou liderança) o que é mais importante. E começar por ali sem mais delongas, repetindo o processo no fim do dia. Parece banal, eu sei. Mas o simples planejamento do dia seguinte faz com que você comece com mais energia, foco e rapidez.
Além disso, se não está acostumada a trabalhar remotamente, pode sentir falta de alinhamento com os pares ou com quem gere sua área. Pois fale! Perguntas não feitas são a receita para o erro. Pergunte, ligue mais uma vez, cheque por mensagem se entendeu certo. O trabalho remoto funciona perfeitamente desde que a comunicação seja efetiva.
Os humanos em geral são péssimos em calcular o tempo necessário para as tarefas. Tendemos a errar para cima ou para baixo, a não ser que estejamos muito habituados a fazer aquilo. Viu? Não é só você que faz aquela to-do list enorme e fica frustrada porque não conseguiu cumpri-la!
Em temos de home office para novatos, é preciso levar a lista de tarefas como mais que um amontoado de obrigações. Para isso, tente o Método ABCDE, que propõe a hierarquização das tarefas da mais para a menos importante. Com isso, você pode cortar da lista as menos importante e deixá-las para o dia seguinte ou para alguma brecha.
Os critérios de importância podem ser por urgência e por impacto no trabalho que você faz. O que não se enquadra aí, reserve para outro momento, ou para um bloco de tarefas menos importantes, mas necessárias para fazer durante essa semana, por exemplo (entenda os blocos no próximo item).
Com isso, você vai aprender a ter uma lista de to-dos possível para o dia e vai ter a deliciosa sensação de dar “check” na maioria no fim do dia. Tenha paciência com esse processo, porque você vai ficar melhor na hierarquização com a experiência.
Outra possibilidade é aplicar a chamada Lei das 3 Tarefas, segundo a qual você identifica a tríade de atividades que representa sua maior contribuição à empresa hoje e as prioriza (trabalhando nelas primeiro, colocando mais energia e esmero nelas etc).
90 minutos é o número mágico para a concentração. É o tempo recomendado para reunir um grupo de atividades e fazer sem interrupção. 90 minutos não é tão pouco a ponto de você não conseguir fazer o que é preciso nem tão longo que te deixe se distrair ou se cansar. Por isso, quando tiver que organizar a agenda, pode agrupar tarefas semelhantes em blocos de 90 minutos.
Tente usar essa lógica para dias ou períodos inteiros também. Eu costumo deixar as manhãs para fazer atividades que envolvam escrita ou criação mais intelectual e a tarde marco reuniões quando preciso, porque seria o meu período de mais dispersão e menos energia, então também funciona melhor para o contato social, que “me obriga” a estar mais ligada. Pode funcionar assim também para você.
O que importa aqui é entender a lógica de “blocar” atividades. Escrita: um bloco. Responder mensagens: um bloco. Reuniões: um bloco. E assim você diminui a quantidade de interrupções e aumenta a concentração.
Na dúvida sobre o que priorizar, aplique o princípio 80/20, ou a Lei de Pareto: 80% dos seus resultados vêm de apenas 20% de suas atividades. Quais são suas atividades mais importantes, os seus 20%?
Descubra isso e foque em começar seus dias por aí nessa temporada de home office.
Você já ouviu falar que as start-ups e empresas que trabalham com células ágeis, com o método Scrum, fazem suas reuniões diárias em pé? Claramente como uma forma de tornar o processo mais dinâmico. É assim que as reuniões podem conseguir o alinhamento do que é mais importante sem cair em blá-blá-blá.
Um método para prevenir aquele clássico do mundo corporativo: “acabei de sobreviver a mais uma reunião que poderia ter sido um e-mail”. Já viu isso, né?
Comentei sobre isso para te despertar para a importância de ficar mais em pé, porque isso nos cria um senso de urgência para resolver as coisas logo, até porque causa algum desconforto.
Grandes autores escreviam em pé, muitos profissionais ultraprodutivos cumprem parte do expediente assim. Existem até escrivaninhas altas para isso.
Use a ideia a seu favor também, principalmente quando sentir que o trabalho está se arrastando. Pense em pé, caminhe em casa para refletir sobre um tema, escreva um pouco sobre uma prateleira (que aguente o peso, por favor).
Ficar muito sentado é considerado um fator de sedentarismo e de risco para a saúde. Hoje passamos em média 9h sentados todo dia, e ficar 6h sentado ao dia já é suficiente para aumentar o risco de morrer nos próximos 15 anos em 40% mais do que as pessoas que só ficam sentadas 3h ao dia.
Assim como ficar mais em pé é importante, fazer pausas para movimentar o corpo ajuda na saúde e até na produtividade. Olhar para um ponto focal diferente por alguns minutos (isso mesmo, tirar um pouco o olho das telas do celular, do computador, da TV…) e se alongar por alguns minutos de 90 em 90 minutos é um bom começo.
15 a 20 minutos trazendo a atenção à respiração ou praticando algum tipo de meditação também é um elixir para um dia cheio! O que eu faço: medito no meio da tarde se sinto que fiquei desconcentrada ou agitada, ou bem no fim do expediente, como se fosse uma preparação para o pós-trabalho.
A aceitação de que você NUNCA vai zerar as tarefas é tão importante ou mais que as demais dicas de produtividade que trouxe aqui.
Você não vai fazer absolutamente tudo , então aceite que vai ter que adiar tarefas menos importantes e atividades secundárias. Em suma: você vai procrastinar, e não é uma pessoa necessariamente pouco produtiva por isso.
Use a procrastinação a seu favor, lembrando do que explicou Adam Grant, quando estudou as pessoais “Originais” — que também é o nome do seu livro.
O autor contou que essas pessoas, criativas ao extremo e donas de start-ups de sucesso, procrastinam, sim, mas na hora certa. Elas se concentram absurdamente em um projeto e em determinado ponto largam ele ali para ir procrastinar! Ler outra coisa, fazer um exercício, jogar videogame, ver TV… E isso ajuda a terem novas ideias sobre o problema na qual estavam concentradas antes.
Faça o mesmo. Concentre-se em trabalhar muito no projeto que mais te interessa e, quando estiver cansada, permita-se também ter alguns momentos de procrastinação. Daí podem surgir novas e empolgantes ideias.
Mas lembre-se: você não controla isso, se novas ideias não vierem, tudo bem. Volte a trabalhar e em outra ocasião elas podem pipocar na sua mente.
Você vai ler muitas dicas por aí que é bacana ter seu canto de trabalho em casa, e eu concordo com elas, até porque ajuda muito saber onde exatamente vai começar a trabalhar naquele dia.
Se for na mesa da sala ou da cozinha, por exemplo, certifique-se de deixá-la limpa e sem papeis jogados antes de começar. Tive uma cliente cuja principal tarefa era manter a mesa na qual gostava de estudar sempre impecável. Funcionou muito bem! Porque aquela bagunça deixava o ambiente pouco convidativo para iniciar os estudos.
Mas, apesar de ter um ambiente fixo para trabalhar ser ótimo, é possível que você queira migrar de lugar na casa parar virar a chave, ainda mais se o tédio do isolamento social começar a pegar pra você.
Eu faço isso quando precisa começar uma nova tarefa e já estou cansada. Normalmente trabalho a manhã toda no mesmo lugar — a sala ou meu escritório. Muitas vezes começo da cama.
Mas à tarde migro de lugar com meu computador para começar uma nova tarefa. Vou para o sofá da sala, a varanda…
Sei de muita gente que usa essa ideia para recomeçar um trabalho e se concentrar. Tente também.
Esse é um dos temas mais complexos para quem não mora sozinha.
Normalmente, o que recomendo é fazer um acordo bem claro e aproveitar as pausas do bloco de atividades semelhantes para interagir quando preciso.
Estabeleça regras claras, com sinais evidentes de quando pode ou não ser interrompida: “quando eu estiver de fone, é porque não posso ser interrompida” ou “quando eu fechar a porta é porque preciso me concentrar. Vai durar só 90 minutos e depois vamos falar”.
Não vou mentir: não funciona 100% do tempo, principalmente quando se trata de crianças. Eu não tenho filhos então o máximo de interrupção são meus gatos pedindo carinho ou trazendo uma cordinha para brincar.
Mas com as mães que já atendi e conversei o que já funcionou foi: 1) tentar o acordo, mesmo não funcionando 100% das vezes, algumas educa, sim; 2) evidentemente, fazer um acordo com o outro adulto da casa, se houver, para revezamento de funções; 3) observar os horários da criança e tentar colocar seus principais blocos de tarefa nos momentos em que estiver mais tranquilo ou dormindo; 4) tentar participar a criança de alguma forma na sua atividade.
O importante é lembrar que qualquer adaptação leva tempo, tenha paciência inclusive consigo mesma para fazer o home office ser produtivo e prazeroso. Trabalhar remotamente é uma tendência inegável para os próximos dez anos. No mínimo, é treino.
]]>Para desacelerar ou apenas se sentir livre de tantas to-dos, primeiro faça… a to-do, uma lista de tarefas brutalmente honesta, e esvazie a mente (Foto: Pexels)
Aquela sensação de ter tanta coisa para fazer que não sabe nem por onde começar? Recém-chegada ou velha conhecida pra você?
Eu chamo isso de mochila cheia, pesada demais.
Aquela bolsa na qual você vai colocando todos os objetos que acha que vai usar na ocasião e no final mal fecha o zíper. Tudo parceria importante, oras. Mas ela fica abarrotada, um caos. Você não encontra mais nada ali.
Nessas horas, o que acaba fazendo, principalmente na pressa? Joga tudo em cima da mesa para procurar o que precisa urgentemente, certo?
Pronto, é assim que a gente vai começar a lidar com as suas pendências também, para achar o que é urgente: foco e algum nível de serenidade. E depois vai organizando.
Vamos aos passos para lidar melhor com essa mochila de pendências que anda te pesando nos ombros e dando de cabeça.
É uma frase que repito muito quando falo de produtividade e organização para responder à pergunta: “por onde eu começo?”.
Sugiro também fazer o que eu mesma tento: ter cautela com a falácia do “dar conta de tudo” e a romantização das múltiplas jornadas. Você não precisa segurar todas as ondas igualmente bem, pra começo de conversa. Vai fazer algumas funções da sua vida melhor que outras mesmo.
Se tudo está acumulando sem que você consiga vislumbrar com o que exatamente gasta as horas mais produtivas do seu dia será que não é hora de parar e olhar para essa correria que se tornou a sua rotina?
Eis o passo 1 desse plano para resolver as pendências e tornar a vida mais leve (ou pelo menos fazer sua parte para sentir-se assim).
Sente-se e escreva absolutamente todas as pendências que gostaria de resolver, vale de supermercado à renovação de CNH, de uma ligação banal a um objetivo de carreira grandioso. T-u-d-o.
A idea é tirar na cabeça e começar a visualizar os problemas concretos como o que são: “coisas” a serem resolvidas ou descartadas. Liste o máximo que puder.
Agora diz aí: dessas “coisas”, quais te faria melhor resolver o mais rápido possível e por quê?
Apenas escreva em uma folha separada e se quiser separe-as em categoria. Família, burocracias, lazer, estudo, trabalho, planos para o futuro…
Ganhe clareza do que está na mochila e já separe em que pretende atuar primeiro.
Escolha de uma grande até quatro pequenas pendências para resolver e escreva: quais os primeiros passos para lidar com isso? Qual pode dar já hoje? E amanhã? Faça ou programe essa ação agora.
O tal do primeiro passo tem uma força imensa porque, obviamente, te tira da inércia e traz a sensação de realização que vai impulsionar o restante do processo.
Porém, tão importante quanto começar a resolver essas primeiras pendências que incomodam, é aprender a descartar as que nem deveriam mais estar ali. Os penduricalhos, aqueles que ficam martelando na sua mente, mas que poderiam ser movidos da sua mochila — da sua lista de afazeres.
Consegue detectar quais são os seus?
Tarefas que estão há tempos demais esperando para serem feitas merecem uma revisão. Elas ainda são importantes? Por que mesmo você quer fazer isso? Será que não deveria esquecer a ideia e seguir adiante?
Mais uma pista de que a pendência merece ir para o lixo: é só você que consegue fazer aquilo? A velha e boa ideia de delegar o que pode ser delegado se aplica aqui.
Por fim, itens que representam pressões autoimpostas e expectativas irreais sobre você mesma ou (pior ainda) sobre os outros nem deveriam constar na mochila.
Reforçando: use essa etapa para livrar-se um pouco mais do peso de ter que ser perfeita e dar conta de tudo, essa é a hora para repensar essa postura consigo mesma.
Agora que ganhou clareza do que te perturba e separou as pendências que nem deveriam mais constar ali, é hora de levar essa organização a um plano mais prático.
Em casa, no escritório, na bolsa: remova papéis antigos, cartões de visita que nem sabe de quem são, excessos de coisas que só estão ali para acumular poeira e andam te deixando alérgica a clareza.
No campo virtual: remover de e-mails e mensagens antigas a perfis que não curte nem acompanha mais. Essa limpa geral traz uma sensação boa de estar no controle do que consome em termos de informação e ajuda a minimizar a fadiga de decisão, um mal contemporâneo que experimentamos quando nos sentimos saturadas. Não conseguimos tomar boas decisões quando temos ruído em excesso atrapalhando e estamos exaustas.
Esses penduricalhos físicos, virtuais e mentais de que falei pioram esse tipo de fadiga.
Então, fica a questão: como andam seus e-mails e mensagens? Se não puder zerar as caixas de entrada agora, programe um horário para fazer isso, até o fim da semana. Coloque despertador para te lembrar ou escreva na agenda. Vai ajudar.
Pense em uma pessoa com a qual você sente que está em falta ou a quem precisa dizer algo. Mande mensagem ou ligue agora para ela e resolva.
Sabe por quê?
Porque talvez esse seja um mísero item da sua lista de pendências, mas seja o que vai te trazer mais satisfação e fomentar emoções positivas. As relações humanas têm esse poder de fazer aflorar as emoções mais potentes (boas e ruins, claro).
Muita gente jamais associaria organização e produtividade a isso, mas reflita. Somos uma só, tudo está conectado aí dentro, por mais piegas que isso soe.
Você quer sentir essa leveza de espírito, não é?
Pois organizar as coisas práticas vai ajudar, sim. Mas não vai resolver se não começar a fazer as pazes com aspectos muito menos tangíveis que uma gaveta ou uma lista de burocracias. Tem uma gaveta de sentimentos que torna a rotina mais ou menos difícil de levar.
E, pode apostar, a to-do list emocional é essencial para que você não volte ao padrão de encher a sua mochila do que não precisa, tapando buraco com uma carga absurda de afazeres e obrigações que deixa o dia a dia ruidoso, poluído e infeliz.
Isso envolve:
Eu podia ficar o resto do dia dando ideias do que colocar na to-do list emocional. Mas ela é individual.
Escreva a sua — não como mais uma lista de tarefas a fazer.
Essas frases são resoluções para te ajudar a não cair novamente no mito da super-mulher que só tem mérito se der conta de tudo e se sente oprimida pela quantidade de obrigações que, por influência externa, se autoimpôs.
Ah, essa lista pode vir ainda na forma de lembretes do que realmente é importante para você, o que realmente deveria sempre estar na mochila. Tarefas positivas e engrandecedoras das suas emoções e da sua vida que precisam caber na agenda atribulada sim ou sim!
Agora que arrumou a casa e percebe, inclusive, que algumas das tarefas que pipocavam ali para te atormentar nem deveriam estar ali, você pode partir para uma organização, digamos, mais prática e rotineira.
O que vou sugerir é que tenha uma folha de caderno ou um arquivo no celular (pode ser bloco de notas ou um e-mail para você mesma, por exemplo) para ir anotando as pendências à parte, conforme elas surgem.
Não inventei isso: aparece nas sugestões do expert em organização David Allen e já foi replicada por outros métodos a ideia de ter um arquivo, uma espécie de “depósito” — ou mochila — na qual vá jogando o que surge.
Isso é bom porque você literalmente tira a ideia da cabeça ao escrever e consegue ficar mais tranquila ao saber que não vai esquecer. Aquele lembrete vai estar reservado em um lugar seguro.
Também é bacana porque você pode se propor a olhar sistematicamente para o tal depósito, ou mochila, uma vez por semana para checar se o que está lá ainda importa e se vai encaixar na agenda semanal.
Sacou?
Pode usar os passos que viu aqui para avançar nessa organização, definindo os primeiros passos para resolver o que pode, jogando fora o que não vai fazer e acessando a sua to-do list emocional para lembrar do que mais te importa de verdade.
Caminhar com a mochila mais leve é trabalho diário, e é tarefa sua.
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