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Bru Fioreti

3 conselhos de carreira que você vê na internet, mas deveria desconfiar

Bru Fioreti

18/02/2020 04h00

Trabalhe com o que ama e… bem, tenha mais satisfação, porém não necessariamente menos problemas no dia a dia (Foto: Pexels)

Você possivelmente é bombardeada por uma chuva de frases motivacionais e conselhos sobre carreira nas suas redes sociais. Longe de mim falar mal disso, né? Estou aqui escrevendo uma coluna de carreira, dou palestra, tenho várias formações em coaching (sim, aquela área que tanta gente ama odiar), atuo como business coach, sou jornalista e especialista em branding pessoal.

Poxa, eu gosto dessa seara, produzo conteúdo e vivo dando conselhos de carreira!

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Sei que uma frase pode ter um impacto incrível em uma pessoa e fazê-la repensar seu rumo. Falo com dezenas de pessoas via rede social todos os dias que já foram impactadas dessa forma.

Mas tem muita besteira por aí.

Besteiras bem intencionadas, ouso dizer. Mas que criam mitos desastrosos. Escolhi para hoje três desses conselhos ultradisseminados na internet, mas que são falsos — ou pelo menos omissos, já que escondem um pedaço da verdade do dia a dia profissional.

Vamos a eles.

1) Trabalhe com o que ama e nunca mais vai trabalhar na vida

A célebre máxima de Confúcio é das mais mal interpretadas. Claro que ele não estava falando que a pessoa ia literalmente parar de trabalhar se atuasse com algo que a apaixonasse. Estava se referindo à ideia de que trabalhar com o que ama pode ser tão prazeroso a ponto de nem parecer trabalho.

Algo nessa linha.

Ainda assim, vejo muitas pessoas se decepcionando quando largam seus trabalhos por um sonho ou simplesmente embarcam em aventuras empreendedoras em áreas de que gostam. Não é simples assim.

Trabalhe com o que ama e você vai ter mais mais prazer no geral, sim, mas o dia a dia pode ser muito desafiador e te trazer uma infinidade de problemas. Você pode encarar melhor os problemas. Mas os dito-cujos estarão ali.

Afinal, todo trabalho remunerado envolve resolver problemas, você conhece algum que não?

Passada a empolgação com uma nova área, você pode continuar amando fazer aquilo e talvez não se importe tanto com os perrengues envolvidos, em nome de um bem maior. Mas ainda assim, se for trabalho, vai dar trabalho.

Não quero jogar um balde de água fria em quem começou a trabalhar numa área que adora.

Eu mesma faço isso, vejo significado no que faço, amo a forma como desenhei minha rotina, está tudo certo! Mas tem dias… ora, tem dias em que estou desanimada, ansiosa, cansada, tem atividade que preferia não fazer e assim por diante.

Ser realista não é ser pessimista.

Busque trabalhar com algo que ame, se possível, e veja como isso traz mais felicidade à sua vida. Só não traz a vida perfeita, a carga horária pequena ou a conta bancária recheada.

Isso pode vir. Mas não pelo amor ao trabalho como fator isolado. Sem entrar no conceito do que é feliz (ver o próximo tópico), podemos ver na prática que amor e esforço, juntos, fazem um combo mais bem-sucedido na prática.

2) Para prosperar e ser feliz na profissão, precisa definir o seu propósito

Não é bem assim.

Tal Ben-Shahar, o psicólogo que ficou famoso pelas aulas em Harvard e estudioso da felicidade, é um dos que fala melhor sobre propósito, na minha visão. Ele explica que encontrar o propósito de vida é essencial para a felicidade, definida por ele como a soma de prazer + significado.

O propósito, logicamente, contribuiria para trazer significado e nos deixar mais felizes com a nossa existência.

Acontece que o próprio psicólogo explica que não necessariamente nosso propósito precisa estar ligado ao ganha-pão. Incrível se estiver! Mas, caso você não encontre um significado com o qual queira ou seja possível trabalhar, tudo bem! Você pode exercer o seu propósito de vida e encontrar significado de outras formas — nas relações com a família e os amigos, fazendo voluntariado, em um hobby…

Vejo muita gente se sentindo pressionada a encontrar um propósito ligado à carreira, como se não ter isso fosse motivo para se sentir inferior. Como se fosse o fim não fazer parte de um grupo afortunado que trabalha com significado e sai saltitando cumprir o expediente (corroborando o mito do tópico anterior).

Cuidado com a vida empreendedora feliz que você vê no Instagram — mesmo aquela que supostamente fala dos problemas, mas que diz que o propósito acima de tudo faz valer a pena.

Às vezes é assim, às vezes não.

Há muita formas e ritmos para trazer mais felicidade — prazer e significado — para sua vida.

Você pode "emprestar" o propósito da empresa e embarcar na sua função mais motivada.

Pode arrumar novas maneiras de combinar suas habilidades para fazer algo bom para a comunidade.

Pode ter uma função que te encha de prazer no dia a dia, mesmo se não tiver tanto significado.

Pode, ainda, não amar o que faz na prática, mas se sentir ótima e morrer de orgulho de fazer parte de um projeto do bem.

Ajuste a equação da felicidade de acordo com seus talentos, crenças e possibilidades atuais.

E lembre-se de que isso é dinâmico! Você muda, o mundo muda, e mesmo se o seu propósito permanecer o mesmo, sua forma de atuar sobre ele pode ir sofrendo modificações ao longo da vida. Você pode ir experimentando muita coisa e trabalhando seu autoconhecimento para se aproximar do seu propósito também.

Ser feliz, no fim das contas, é o maior propósito.

3) Todo mundo é (ou deveria ser) um empreendedor

Eu gosto da ideia de que podemos ser empreendedoras da nossa própria carreira, ou seja, não delegá-la a mais ninguém e trabalhar ativamente para conseguir o que queremos.

Por muito tempo, vivemos aprisionadas à ideia de que o "patrão" devia escolher o que era melhor pra gente e que a subir de cargo e, portanto, ganhar mais dentro da empresa, era nossa única opção de crescimento profissional. E olhe lá!

Hoje sabemos que podemos ser perfeitamente felizes com o chamado crescimento horizontal — você constrói uma boa trajetória profissional sem se tornar líder, apenas mudando o que faz ou se especializando.

Daí a cair no hype do empreendedorismo é outra história.

Veja: todos os estudos sobre o futuro do trabalho apontam, de fato, para um aumento do número de autônomos e empreendedores.

Na prática, isso requer, no mínimo, pensar em fatores como: não ter mais horário fixo nem local de trabalho fixo, mas passar a se preocupar com clientes (os prazos continuam, claro), pagar o próprio plano de saúde, lidar mais com finanças no dia a dia e roer outros ossos não tão bonitos da vida fora da CLT.

Não é questão do que é bom ou ruim. Mas do que é melhor para a sua carreira, para seu estilo e para suas condições de vida.

O maior mito em torno de empreender talvez seja a ideia de que se trabalha menos. Mentira: quem empreende tem mais dificuldade de equilibrar o tempo dedicado à esfera pessoal e o trabalho, porque o trabalho invade a casa e os pensamentos muito mais do que quando se bate o ponto e vai embora.

E mesmo com um propósito claro, o dia a dia pode ser muito árduo, porque repleto de demandas para as quais a maioria das pessoas não estava preparada.

Se abrir um negócio é pra você?

A resposta é complexa. Eu indicaria avaliar seu momento profissional, checar se tem um colchão mínimo financeiro e cuidar da disposição para cuidar de detalhes que antes não faziam parte da sua vida. Você pode ser ótima em fazer brigadeiro, mas quando abre uma brigadeiria talvez essa vá ser a última das suas preocupações. Já ouviu algo assim? Taí uma verdade.

Caso se anime com a ideia de ao menos atuar por conta própria, planeje-se, pense nos números e tente criar uma rotina de trabalho. Ter flexibilidade não é sinônimo de não ter rotina. É ter rotina e poder quebrá-la quando quiser.

E, isso sim, é uma das reais benesses de ser sua própria chefe.

Sobre a autora

Bruna Fioreti é coach de vida e carreira, jornalista e consultora de branding pessoal e conteúdo. Ministra cursos e palestras sobre carreira, estilo, produtividade e temas femininos pelo Brasil - expertise desenvolvida em cinco anos como redatora-chefe da revista Glamour. Com MBA em Coaching em curso e seu projeto Manual de Você, realiza dezenas de atendimentos individuais e dissemina o conceito de #autocoaching nas redes sociais.

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre carreira, com foco nas mulheres que buscam satisfação, foco, produtividade e aprimoramento da imagem profissional. Um espaço para falar das tendências da área, que vai te ajudar a atingir a melhor performance da empresa chamada VOCÊ.

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