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Bru Fioreti

Deus ajuda quem cedo madruga? Por que desconfiar deste e de outros ditados

Bru Fioreti

28/09/2017 08h00

Será que há mesmo razão nos ditados populares? (Foto: iStock)

 

Você repete a frase sem pensar, ela surge automaticamente na cabeça assim que algum "gatilho" é disparado — uma palavra apenas, muitas vezes. Acontece que os ditados populares e toda sorte de frases feitas que ouvimos desde a infância contêm crenças aceitas sem questionamentos. A gente vai repetindo desde pequeno e nem sabe por quê. Uma dessas frases até caberia bem aqui: uma mentira dita mil vezes torna-se uma verdade. Viu só?

Nos estudos de coaching, isso é chamado de crença limitante ou limitadora — coisas nas quais acreditamos e que só fazem atrapalhar nosso crescimento pessoal ou profissional; são frases, conceitos, valores e modelos de pensamento que nos limitam em vários aspectos. Toda vez que repetimos essas "verdades" em piloto automático estamos reforçando sem querer a crença embutida nelas.

Exemplo: e você acredita no popular "Deus ajuda quem cedo madruga" provavelmente vai se sentir mal se tiver um trabalho com flexibilidade de horário ou vai acreditar que, por ter falhado ao acordar cedo algum dia, não é "merecedor" da ajuda divina.

Daí podem vir uma série de outras crenças limitantes: a de que só com insanas horas de trabalho é possível ser bem-sucedido, de que as pessoas que nasceram com condições melhores de vida não são tão merecedoras de sucesso quanto as "batalhadoras"… E assim por diante. Quantas limitações mentais surgem da repetição impensada de uma frase como essa!

Antes de repetir, pense

Para desafiar uma crença é preciso bancar o advogado do diabo. Sim, fazer perguntas do tipo "existe alguma prova disso?", "as pessoas que começam o trabalho no período da tarde não podem fazer sucesso?", "terminar as tarefas mais rápido faz com que eu não tenha méritos pelo que fiz?". Por mais bobo que parece, só isso já tira a aura de verdade absoluta de qualquer afirmação.

E olha que a lista de frases que carregam crenças limitantes perigosas para o sucesso profissional é imensa. Coloco abaixo algumas delas, com seus "riscos" em potencial. Antes de repetir um ditado popular de novo, pense nisso e no que está depositando na sua mente.

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Claro que existe alguma sabedoria em trazer as pessoas para colocar os pés no chão, em incentivá-las a agarrar as oportunidades. Mas essa frase carrega a crença de que é melhor ficar na zona de segurança, garantir o que é certeza, em vez de ousar, tentar algo mais. É uma limitação dos sonhos, usa mais a lógica da escassez que a da abundância.

Não tente reinventar a roda. O lado positivo? Incentivar as pessoas a aproveitar o aprendizado existente até então em vez de querer fazer do seu jeito só por birra. Mas, convenhamos, o que pode ser mais limitador que ouvir isso quando você está tentando criar? O processo criativo requer tentativa e erro e, mais, requer que se pense em como alguma coisa foi criada para poder recriá-la, aperfeiçoá-la, subvertê-la. Tente, sim, reinventar a roda, principalmente porque muitas "rodas" ainda não foram nem inventadas.

A pressa é inimiga da perfeição. Frase ótima para valorizar o esforço e o passo a passo para a construção de qualquer coisa. Mas olha a crença limitante aí: quem disse que é preciso chegar à perfeição? Antes disso, existe o "bom o suficiente". A tentativa de atingir o perfeito é uma das coisas que mais fazem as pessoas "travarem". Por medo de não fazer do jeito ideal, passam anos adiando projetos, levam outros tantos para mostrá-los aos outros. Elas acham que o tempo de maturação precisa ser imenso e nunca dão nada por finalizado. Eu jogaria um ditado para contrapor aqui: Melhor do que perfeito é feito.

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Quanto engano! Nada se mostra mais eficiente em termos de ensino do que dar o exemplo. Você pode falar mil vezes uma coisa e não terá seu conteúdo tão absorvido quanto se começar a aplicar aqueles conceitos no seu dia a dia. Isso vale principalmente para liderança — o que no coaching executivo chamamos de liderança pelo exemplo.

A sacada aqui é aprender a questionar todas as crenças, inclusive as que sem querer posso ter transmitido neste texto. Elas merecem ser desafiadas com uma pergunta de filtro básica: isso me limita ou me fortalece? Escolha acreditar no que leva você para frente. Se for para frente que você quiser ir, claro!

Sobre a autora

Bruna Fioreti é coach de vida e carreira, jornalista e consultora de branding pessoal e conteúdo. Ministra cursos e palestras sobre carreira, estilo, produtividade e temas femininos pelo Brasil - expertise desenvolvida em cinco anos como redatora-chefe da revista Glamour. Com MBA em Coaching em curso e seu projeto Manual de Você, realiza dezenas de atendimentos individuais e dissemina o conceito de #autocoaching nas redes sociais.

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre carreira, com foco nas mulheres que buscam satisfação, foco, produtividade e aprimoramento da imagem profissional. Um espaço para falar das tendências da área, que vai te ajudar a atingir a melhor performance da empresa chamada VOCÊ.

Blog da Bru Fioreti