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Bru Fioreti

Sarahah: inspire-se no app do momento para se tornar um expert em feedback

Bru Fioreti

17/08/2017 08h00

A essa altura você já sabe que existe um aplicativo chamado Sarahah, destinado a dar e receber "críticas construtivas" e que ele é o app mais baixado na Apple Store no Brasil e nos Estados Unidos. Também já deve ter lido que ele tende a se tornar uma fonte fértil para o ciberbullying, porque garante o anonimato das fontes.

Concordo com tudo isso, mas fiquei aqui pensando em como ele pode inspirar o autodesenvolvimento e cheguei à conclusão de que devíamos começar a fazer um "auto Sarahah", ou seja, usar a ideia do aplicativo-hit para aprender a lidar melhor com críticas, entender nossas forças e pontos fortes e, por que não?, até avaliar como usar essa ferramenta a nosso favor.

É uma espécie de autocoaching com o objetivo de ser se autoavaliar e ser honesto consigo mesmo (Sarahah não significa franqueza, honestidade? Então…).

Sarahah, o app da vez: dá para bloquear o usuário que ofendeu você, o problema é esquecer as críticas negativas depois… Foto: Reprodução

Mas como podemos adaptar o Sarahah ao contexto de autocoaching? Aqui vão algumas estratégias:

1. Liste as críticas construtivas que você faria a você mesma.

No Sarahah, as pessoas fazem críticas a você, mas no "auto Sarahah", você faz autocrítica, mas só vale a construtiva. Se você começar a avaliar  seus pensamentos, vai notar que o maior bullying é aquele que você faz com você mesma. Trata-se daquela voz interna feroz e maniqueísta, da qual falei no post sobre a síndrome do impostor. Então aqui, preocupe-se em diferenciar sua voz crítica de viés negativo da autoanálise.

A proposta é listar seus pontos a serem melhorados na vida pessoal e na carreira e escrever no que cada um tem prejudicado você. A sequência consiste em escolher de um a três desses pontos para combater. O que você pode fazer a partir de hoje para minimizar esses defeitos e maximizar suas forças? Liste as atitudes e coloque prazos para cumpri-las.

2. Trabalhe sua receptividade ao feedback negativo.

Existe uma escala de receptividade a feedback que vai da pessoa que briga e rebate àquela que sai da reunião com um plano de ação para melhorar o que foi pontuado. Entre esses dois níveis, existe uma série de comportamentos mais ou menos reativos, que incluem aceitar por fora e se corroer por dentro (alguém?) e combater cada ponto nos mínimos detalhes.

No "auto Sarahah", a proposta é pegar papel e caneta e se lembrar de como reagiu aos feedbacks negativos que já recebeu na vida. Você brigou? Esperneou? Aceitou? Não gostou, mas depois melhorou com eles? O importante é fazer um inventário de suas atitudes mais comuns para evitar comportamentos indesejados nas próximas vezes. O ideal é ouvir mais e falar menos e responder pontualmente ao que não tiver lastro na realidade.

De resto, a melhor atitude é levar a crítica para a casa para conversar depois se realmente houver necessidade ou tomar uma atitude de melhoria. A habilidade de dar e receber feedback é ultravalorizada no mercado hoje, porque denota desenvolvimento das inteligências emocional e relacional.

3. Aprenda a técnica do bom feedback e treine em casa.

Você sabe fazer uma crítica construtiva? Em geral, ela precisa ser dada sem floreios, mas com compaixão (um passinho a mais que a famigerada empatia). Deve ser pontual, direta, pensada, verdadeira. Feita com calma, mas no esquema páh, bum. E acima de tudo: deve ter como objetivo a evolução e o crescimento da outra pessoa. Não é sobre você e sua vontade de falar o que pensa. E isso é uma arte.

Mandar recados no anonimato como acontece no Sarahah tem um quê de covardia porque pode ser usado para fazer bullying, afetar propositadamente a autoestima das pessoas de que a outra não gosta e tantos outros fins menos nobres do que ajudar o interlocutor a desenvolver seus pontos de melhoria. Dar indiretas e usar sarcasmo é tão infantil quanto.

A honrosa exceção — e aqui eu acho que o Sarahah tem uma função — é informar a pessoas que tenham mau hálito e "cecê" de seu problema, porque são temas delicadíssimos de se falar a um colega de trabalho, por exemplo. Ainda assim, existe a forma certa de falar no tête-à-tête, seguindo a cartilha do bom feedback, que listei no início deste tópico. De qualquer forma, você pode treinar com um amigo ou até na família dar um feedback como precisa ser: direto, rápido, empático e pensando no bem alheio. Um Sarahah honesto de verdade.

4. Peça feedback real a pessoas em quem confia.

Uma ferramenta que muitas vezes utilizamos no coaching para ajudar o cliente a se enxergar sob a perspectiva do outro é fazer um questionário para as pessoas mais chegadas a ele. A ideia é que seus pontos fortes e a desenvolver, talentos e comportamentos sejam mapeados. Elogios e críticas acabam se repetindo, o que permite ao coach ajudar o cliente a traçar uma estratégia de autodesenvolvimento.

Apesar de sabermos quem são as pessoas que responderam ao questionário, as respostas em si são mantidas no anonimato, para que as pessoas se sintam mais à vontade. Sob essa ótica, a ideia do Sarahah é ótima, né? Acontece que, no caso do coaching, o próprio cliente escolhe pessoas que querem seu bem para fazer o exercício. Então só vem crítica construtiva mesmo! Já no Sarahah…

Por isso, a sugestão para o "auto Sarahah" é listar de cinco a dez pessoas que poderiam dar opiniões sobre você, entre familiares, amigos e colegas de trabalho, e pedir que respondam: O que você tem de bom? O que poderia melhorar? Quais conselhos dariam? E assim por diante. Só se certifique de ter treinado bem a capacidade do tópico 2, de receber feedback. Uma vez que pediu as críticas, aceite de bom coração e trace uma estratégia de melhoria contínua.

5. Só entre no Sararah se estiver com a autoconfiança muito em dia.

Não sei quanto tempo vai durar essa febre, mas não preciso ser um gênio para imaginar que terá impacto negativo sobre várias pessoas. Você pode bloquear quem agrediu você, mas, uma vez lido o comentário ofensivo, estará gravado na sua mente. Infelizmente, temos a tendência a gravar mais informações negativas (que geram sentimentos negativos) do que positivas. Em resumo, você pode receber uma crítica de elogios, mas vai se lembrar da crítica.

Isso acontece até no exercício de coaching que descrevi acima: as pessoas tentam adivinhar quem falou e, não fosse o trabalho do coach ali, se apegariam só ao que foi dito de negativo. Então, pratique mais o "auto Sarahah" e só entre na onda do aplicativo se estiver forte o suficiente para isso.

Um comentário negativo na sua rede social ou o fato de ter poucos likes numa foto já fazem um tremendo estrago na autoestima de muita gente — digo por experiência como coach –, imagine o que uma chuva de críticas anônimas pode fazer.Pense nisso antes de entrar na onda.

Sobre a autora

Bruna Fioreti é coach de vida e carreira, jornalista e consultora de branding pessoal e conteúdo. Ministra cursos e palestras sobre carreira, estilo, produtividade e temas femininos pelo Brasil - expertise desenvolvida em cinco anos como redatora-chefe da revista Glamour. Com MBA em Coaching em curso e seu projeto Manual de Você, realiza dezenas de atendimentos individuais e dissemina o conceito de #autocoaching nas redes sociais.

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre carreira, com foco nas mulheres que buscam satisfação, foco, produtividade e aprimoramento da imagem profissional. Um espaço para falar das tendências da área, que vai te ajudar a atingir a melhor performance da empresa chamada VOCÊ.

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