Topo

Histórico

Categorias

Bru Fioreti

Disciplina é sua melhor amiga na crise! Veja como desenvolvê-la em 4 passos

Bru Fioreti

31/03/2020 04h00

Pró-disciplina: crie rotinas para automatizar o que não ama fazer e aceite que o trabalho chato faz parte (Foto: Pexels)

Disciplina é uma palavra que já vem carregada de significados negativos, em geral, chatice, sofrimento, excesso de regras. Muitas vezes, também é algo do tipo "é pra mim"ou "não é pra mim", tenho ou não tenho, sou ou não sou disciplinada. E essa é uma das maiores mentiras que você pode contar para si mesma, especialmente em tempos difíceis.

Disciplina é algo que se desenvolve e que, portanto, está ao seu alcance.

É também uma das chaves para se sentir minimamente no controle em situações fora do controle — o que, por sua vez, ajuda a diminuir a ansiedade e os vários medos que crises como a atual geram. Isso independentemente de você estar ou não trabalhando em casa no período de isolamento.

Veja mais

Mas, claro, quando a gente precisa fazer home office, seja em trabalho formal ou não, cuidar da gestão do próprio tempo e entender o que priorizar, a disciplina ajuda.

Por isso, listo aqui quatro tópicos da criação da disciplina, que não têm uma ordem fixa a ser adotada; são complementares. E, como não existe receita milagrosa, enfatizo: não é do dia para a noite. Você começa agora e aos poucos vai se percebendo mais disciplinada.

E aí acabou? Não, disciplina é o trabalho de formiguinha por excelência. Mas vale a pena porque vai te ajudar, além do que citei acima, a se sentir mais eficaz e confiante.

1) "Automatizar" a rotina com repetição

Já publiquei texto antes explicando como o simples hábito de arrumar a cama todos os dias pode ajudar na sensação de ter um mínimo de controle mesmo em situações difíceis e aumentar a confiança.

Também já falei inúmeras vezes o que justifica o sucesso de propostas como o "milagre da manhã", o clube das 5 etc: o fato de propor uma rotina matinal bem estabelecida aumenta a sensação de autoeficácia e faz o dia render mais.

O que está por trás de tudo isso é a criação de hábitos saudáveis, o poder da repetição e o uso dela como gatilho para praticar outras atividades engrandecedoras, como se exercitar, fazer um diário de gratidão ou meditar.

Na verdade, criar rotina é uma maneira antiga para se organizar mentalmente e na prática. É a base da disciplina.

Em tempos de quarentena, você pode tentar manter dentro do possível os hábitos que já tinha, trazendo uma confortável sensação de familiaridade, ou criar novos rituais, que tornem o momento de isolamento, se for o seu caso, mais palatável.

Não é sobre se cobrar para ser hiperprodutivo, muito menos sobre lotar a agenda de novas demandas. A proposta da criação de novos rituais é usá-los como gatilho, como um impulso para fazer as atividades que sejam de fato importantes agora.

Rotina de trabalho, com começo, meio e fim. Rotina de estudos, idem. Rotina de relaxamento, de se informar e assim por diante.

Crie sequências de 3 a 5 pequenos atos e faça todos os dias no mesmo horário. Que seja lavar as mãos (1), fazer um chá (2), organizar a mesa ou o canto de trabalho (3), olhar 1 minuto pela janela (4) e agradecer em voz alta por algo bom (5) antes de começar o trabalho em si.

Banal, simples mesmo. Sua eficiência consiste em ser feita regularmente para "automatizar" o processo de começar a trabalhar.

Pode fazer uma sequência pré-exercícios e outra para momentos de muita ansiedade ou antes de dormir, por exemplo. Pense no que faz sentido para a sua vida hoje e lembre que a chave é a repetição. Parte da disciplina virá daí.

2) Fazer regularmente o que não gosta

Li recentemente uma reportagem da revista Entrepreneur sobre o ator e empreendedor Mark Wahlberg, conhecido por ser hiperdisciplinado.

Na entrevista, ele conta que disciplina não é algo natural dele, mas uma escolha. Antes, ele conseguia ter disciplina para fazer as coisas que amava, mas não tinha tempo nem vontade para as tarefas desagradáveis, até que um dia percebeu a necessidade de ser disciplinado em todas as atividades se quisesse ser bem-sucedido.

Hoje, raramente sai da rotina que estabeleceu para si. Dedica o mesmo rigor para fazer o que ama e o que detesta, e o faz sempre, tentando adaptar seus rituais e horários ao máximo mesmo quando está gravando um filme.

É organizado no tempo que dedica a todas as atividades, e um dos "corações" do seu método autodisciplinar é acordar cedíssimo (às 3h30) e fazer exercício — que, por sinal, ele diz que não gosta. Mark fala que gosta é do resultado que o exercício lhe traz, assim os frutos da rigidez com horários para gerir seus negócios (ele tem vários).

Trazendo pra cá, talvez a melhor sacada seja entender que para ter disciplina e fazer mesmo aquilo que não gosta a gente precisa ter em mente com muita clareza o resultado que deseja extrair daquilo e fazê-lo consistentemente.

O que esse hábito não agradável te proporciona? Como vai ser se conseguir se manter nessa toada por meses; afinal, que benefício terá?

Ou, mais especificamente, pode fazer perguntas como: Como eu gostaria de estar no final dessa quarentena? Como esse hábito vai me ajudar a passar por essa fase difícil?

E a partir daí definir um hábito a ser criado, com foco no resultado. Pode ser exercício, meditação, alimentação saudável, beber mais água, estudar todo dia, criar conteúdo todo dia nas redes sociais, ficar menos online… O que for tornar essa fase melhor e trouxer o benefício que espera lá na frente.

Planejamento + confiança + networking = transição perfeita

3) Observar-se e lidar com o medo e a ansiedade

Muito se falou sobre vulnerabilidade, graças a Brené Brown, uma das mais reconhecidas e populares TED speakers da atualidade.

Pois essa é a hora em que estamos todos sendo confrontados com a nossa vulnerabilidade, não só como indivíduos mas como sociedade. E talvez, mesmo em isolamento, sendo obrigados a olhar para além das nossas bolhas.

Na prática, isso gera medo, ansiedade, uma série de desconfortos dos quais tendemos a querer fugir. Mas será que é o melhor caminho?

Não necessariamente. Negar a existência do medo e a gravidade da situação não é uma técnica antipânico, mas uma autoilusão com prazo de validade.

Para desenvolver autodisciplina numa fase como a atual, precisamos aprender a ler o cenário e a nós mesmos, aprender a lidar com as próprias emoções.

Porque, por mais que os tópicos 1 e 2 sejam eficientes, eles dependem da saúde emocional. Ninguém consegue, por mais motivado por resultado que esteja, pular da cama cedíssimo, fazer exercício e trabalhar superbem o dia todo se não estiver minimamente em paz com suas emoções boas e ruins. Aceitando sua condição humana, sua fragilidade e suas limitações diante do cenário.

Fazer planos e tentar desenvolver a disciplina não é sentir-se uma máquina orientada à realização. Isso simplesmente é irreal em meio a uma pandemia!

Por isso, abrace suas dores e angústias atuais como parte do processo e aproveite para desenvolver a famigerada inteligência emocional — a capacidade de lidar com as suas emoções e as dos outros. A começar pelo simples reconhecimento: "pois é, estou com medo. Por que me sinto assim? Há algo que eu possa fazer sobre isso?".

Sugiro, além de fazer terapia online caso os medos e as angústias sejam grandes demais (sim, procure ajuda profissional!), complementar o processo de autoconhecimento escrevendo as respostas para as perguntas que citei antes. Escrever e falar sobre o que sente ajuda a se entender melhor e sair da negação do sentimento. E essa escrita pode fazer parte de uma das rotinas que descrevi no início.

Observe suas emoções, cuide delas, procure ajuda de um psicólogo se sentir que precisa e tente cultivar as boas emoções com gratidão e restrição de horas lendo notícias por dia (isso é uma proposta alinhada com a Psicologia Positiva).

Olhar para a saúde mental é o passo número zero da disciplina, que permeia todas as etapas do desenvolvimento de uma rotina produtiva.

4) Dizer os "nãos" e se adaptar

Ter disciplina é dizer não para tudo aquilo que não se encaixa na rotina estabelecida. É óbvio que sempre vamos abrir exceção, mas uma pessoa disciplinada entende o seguinte: o que faz de uma exceção uma exceção é ela não acontecer toda hora, é ela não ser a regra.

Por isso, repito, se resolver desenvolver disciplina, nem que seja "só" para criar uma rotina benéfica no momento, vai ter que dizer não.

Pode desagradar a pessoa com a qual mais convive porque está mudando os planos, pode vir a negar alguma oportunidade que não se encaixa com o que deseja, pode precisar dizer não para um plano pessoal maior em nome do bem-estar agora…

Todos estamos experimentando um pouco disso, em maior ou menor grau, afinal.

Para quantos objetivos está tendo que dizer não agora? Tem muito aprendizado aí.

Além de aprender a rejeitar o que não quer para se manter consistente, aprender a se adaptar, a alterar o que pode quando o que não depende de você mudou drasticamente.

Nesse caso, é dizer não para a mania de controlar tudo. Tente controlar a sua rotina, a disciplina está aí pra isso, e já terá feito muito por si mesma.

Sobre a autora

Bruna Fioreti é coach de vida e carreira, jornalista e consultora de branding pessoal e conteúdo. Ministra cursos e palestras sobre carreira, estilo, produtividade e temas femininos pelo Brasil - expertise desenvolvida em cinco anos como redatora-chefe da revista Glamour. Com MBA em Coaching em curso e seu projeto Manual de Você, realiza dezenas de atendimentos individuais e dissemina o conceito de #autocoaching nas redes sociais.

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre carreira, com foco nas mulheres que buscam satisfação, foco, produtividade e aprimoramento da imagem profissional. Um espaço para falar das tendências da área, que vai te ajudar a atingir a melhor performance da empresa chamada VOCÊ.

Blog da Bru Fioreti